O ano passado deixou um rombo para as transportadoras de cargas de Minas Gerais. O setor sofreu com o desaquecimento da economia nacional, especialmente de alguns setores, como a construção e a mineração, e fechou 2014 com 10% em média de queda de receita, de acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg). Além disso, uma medida que pode onerar ainda mais o setor em 2015 é a volta da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis, inclusive o óleo diesel.
Conforme representantes do setor, as empresas estão descapitalizadas e não só perderam a capacidade de investir na renovação da frota como estão enfrentando sérias dificuldades para o pagamento de financiamentos de caminhões adquiridos há dois ou três anos. Em alguns casos, os veículos de algumas transportadoras estão sendo apreendidos pelas instituições financeiras onde foi feito o financiamento por inadimplência, revela o vice-presidente do Setcemg, Gladstone Viana.
"Conheço empresas que já estão perdendo caminhões para os bancos e as empresas também não conseguem vender os veículos usados. O desinvestimento no setor é muito grande. Cerca de 90% das transportadoras no Estado estão descapitalizadas e as perspectivas para 2015 não são boas porque o ambiente ainda é de incertezas no país e no Estado. Já não estamos conseguindo repassar os custos para os preços e, com a Cide, vai piorar", alerta Viana.
Nem a indústria automotiva, que tradicionalmente demanda serviços às transportadoras de cargas do Estado, está ajudando, uma vez que as vendas do setor têm registrado quedas consecutivas e o nível de estoque nos pátios das montadoras está elevado. Reflexo disso é a situação das montadoras de caminhões instaladas no Estado, que, ao longo de 2014, anunciaram férias coletivas, lay-off (suspensão de contratos de trabalho) e demissões voluntárias.
A Fiat Automóveis S/A (Fiasa), em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e a Iveco Latin America, em Sete Lagoas (região Central), fabricante de caminhões e veículos comerciais do grupo italiano, por exemplo, deram férias coletivas e promoveram paradas técnicas para adequação dos altos estoques durante o ano passado.
A Mercedes-Benz do Brasil passa por uma situação ainda pior em sua planta em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Depois de investir R$ 450 milhões para requalificar a unidade para produzir caminhões em uma tentativa de reverter uma ociosidade histórica da planta, originalmente construída para fabricar carros, a linha de produção pode mais uma vez ser desativada. A situação continua indefinida.
Margens achatadas
De acordo com o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa, os negócios do setor de transporte de carga em Minas Gerais estão cada vez pior, pressionados pelo fraco desempenho da economia nacional e pelo aumento da concorrência, uma vez que, com demanda menor, as empresas baixam os preços para conseguir clientes. Por conseqüência, o setor, como um todo, está trabalhando com margens achatadas.
Costa revela que, nas contas da Fetcemg, as perdas do setor em 2014 ante 2013 variaram de 5% a 7% dependendo do segmento de atuação da transportadora. Além disso, ele destaca que muitas transportadoras estão com dificuldades de pagar o financiamento de veículos adquiridos há um ou dois anos, quando a expectativa do setor era positiva.
"O sistema financeiro está intransigente. Os bancos estão preferindo tomar o caminhão de quem está inadimplente do que renegociar a dívida. O setor passa por uma espécie de desinvestimento e a busca por novos caminhões em 2015 será menor ainda do que foi em 2014", prevê Costa.
FONTE: Diário do Comércio