O Brasil vem passando nos últimos dias por um verdadeiro período de caos, que se agravou ainda mais com greve nacional do caminhoneiros. O inicio do movimento organizado pelos próprios caminhoneiros, teve inicio no começo de fevereiro em Rondônia (leia aqui), dias depois, caminhoneiros da região centro-oeste aderiram ao movimento. E nessa semana as paralisações se agravaram, chegando a região sudeste e sul do país. Foram registrados ao todo mais de 100 pontos de bloqueio em rodovias estaduais e federais.
As consequências dessas paralisações foram rapidamente sentidas por toda a população brasileira, principalmente na região Sul, que com apenas dois dias de paralisação já a registros de falta de combustíveis, alimentos e medicamentos. Diversas empresas interromperam suas produções em todo país, como por exemplo a Fiat em Betim - MG devido a falta de matéria prima. A registro de corte na produção de laticínios e frigoríficos também em todo o país.
Na tentativa de por fim ao movimento dos caminhoneiros e evitar um agravamento ainda maior da crise, a Advocacia Geral da União entrou com um pedido de desobstrução de todas as rodovias na Justiça Federal. E o Governo Federal convocou lideranças dos caminhoneiros, sindicatos e empresários do setor de transportes para uma reunião, na última quarta-feira (25) em Brasília.
Mas a verdade é que mesmo sendo a maior greve de caminhoneiros já registrada no Brasil, ela não resultou em nenhuma mudança significativa e de importância para a classe de caminhoneiros. As medidas anunciadas pelo governo após um "suposto" acordo com caminhoneiros nada mais é que uma forma de conter a greve e adiar a falência do transporte rodoviário no país.
As principais medidas do acordo e porque não representam melhorias para os caminhoneiros:
CONGELAMENTO DO PREÇO DO DIESEL:
Segundo o governo a Petrobrás garantiu que manterá o preço do diesel congelado por 6 meses. Mas segurar o preço do diesel por 6 meses e depois realizar um novo aumento abusivo, só aumentará no futuro os custos do transporte. Vale lembrar que o preço dos combustíveis subirá mais uma vez no próximo dia 1º de março (leia aqui). O novo aumento foi determinado pelo Ministro da Fazenda por meio do CONFAZ.
APROVAÇÃO DA NOVA LEI DOS CAMINHONEIROS:
A aprovação da nova lei dos caminhoneiros sem nenhum veto, fará apenas com que o caminhoneiro trabalhe ainda mais para continuar ganhando menos ou quase nada, ou seja, a carga horária de trabalho será mais alta, mas o frete continuará baixo e defasado.
CARÊNCIA DE 12 MESES PARA PAGAMENTO DOS FINANCIAMENTOS
Todo início de ano é marcado pela incerteza da continuidade dos programas do governo que facilitam a compra de caminhões, e a cada novo ano a porcentagem financiável cai e os juros aumentam. Ouve até mesmo especulações de que o ProCaminhoneiro teria seu fim esse ano.
Disponibilizar um período de carência de 12 meses, é um benefício de curto prazo, ou seja, após os 12 meses a dívidas continuarão a existir e correndo o risco de sofrerem um reajuste nas taxas de juros dificultando ainda mais a quitação do financiamento.
Além disso esse período pode trazer consequências graves tanto para o BNDES, como para os outros bancos, prejudicando ainda mais a economia. É possível também que a partir de 2016 esses programas (ProCaminhoneiro, PSI) tenham seu fim decretados.
TABELAMENTO DO FRETE:
Segundo o governo está sendo criada uma bancada para discutir e criar uma tabela de referência para o frete. Mas infelizmente o tabelamento do frete é algo praticamente impossível ser aceito e/ou cumprido. O exemplo dessa dificuldade vem do Mato Grosso, onde caminhoneiros e empresas estabeleceram um balizador de frete para o transporte da safra de 2015, produtores e tradings foram totalmente contrários ao balizador e disseram que o valor do frete é definido pela demanda (leia aqui). Se na região Centro-Oeste muitos foram contrários ao balizador, como o tabelamento poderá dar certo e ser cumprido em todo o país?
ISENÇÃO DE PEDÁGIO PARA CAMINHÕES VAZIOS E EIXOS ERGUIDOS:
Essa medida pode ser bem interessante tanto para os caminhoneiros autônomos como para os grande empresários do setor de transporte. Mas trará apenas uma pequena redução nos custos, afinal dificilmente os caminhões circula vazios, ida e volta sempre carregados, pois o frete de retorno é a única forma de cobrir ou diminuir os gastos.
Resumindo, as medidas propostas pelo governo, não apresentam garantias de longo prazo. Apenas colocam fim a greve dos caminhoneiros e mais uma vez "empurram com a barriga" os graves problemas que o setor de transportes enfrenta no Brasil a vários anos. A greve dos caminhoneiros só dará certo quando medidas concretas forem apresentadas e melhorias de longo prazo sejam feitas pelo governo.
Texto: Lucas Duarte - Editor Chefe