Diferente mesmo em relação aos protestos de 15 anos atrás são os líderes à frente do movimento e a forma de comunicação entre os caminhoneiros. No lugar de telefonemas, agora as informações chegam por WhatsApp.
Dois protagonistas de paralisações passadas ficaram à margem do bloqueio este ano: o mineiro Nélio Botelho e o gaúcho Eder Dal'Lago. Presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Fecam), Dal'Lago ressalta que apesar de a paralisação de 2015 ter tido grande adesão dos caminhoneiros nos dois Estados, é totalmente independente, sem apoio da entidade. Representante de nove sindicatos, a federação viveu um racha nas duas últimas semanas.
– Estou evitando falar sobre este assunto. Ninguém veio nos consultar a respeito de bloqueios ou coisa alguma – afirma Dal'Lago, que não esconde uma ponta de mágoa na voz, mas nega qualquer ressentimento quanto à mobilização.
Enquanto alguns sindicalistas gaúchos optaram pela imparcialidade, outros decidiram apoiar a paralisação.
– É verdade. O movimento não começou dentro do sindicato. Mas se é legítimo, por que não abraçar? – questiona Flavio Rosa, diretor operacional do Sindicato dos Caminhoneiros de Rio Grande.
Dessa vez, no lugar de sindicalistas, a liderança está nas mãos de Ivar Schmidt, líder do recém criado Comando Nacional dos Transportes, que não tem vínculos com sindicato ou confederação de trabalhadores. Para o governo que buscava uma solução parcial, a negociação foi mais dura. O catarinense Schmidt não abre mão do chamado frete mínimo, uma tabela-base para cobrança do transporte.
Presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro, Botelho, principal líder da paralisação que parou o país em 1999, também revela uma ponta de desgosto com o novo comando. O mineiro afirma que a paralisação partiu de produtores agrícolas e não dos motoristas.
– Essas manifestações foram organizadas por produtores rurais. Eles pediram o apoio de diversos sindicatos, já que algumas reivindicações são similares às nossas, como o preço do diesel. Mas os caminhoneiros estão sendo usados como cobaias nessa operação toda – afirma.
A opinião do presidente da Federação dos Transportadores Rodoviários Autônomos do Estado de São Paulo (Fecamsp), Claudinei Natal Pelegrini, é semelhante:
– Quem está comandando isso são os grandes produtores de soja, os embarcadores.
FONTE: Zero Hora