Com produção e vendas acumulando quedas ao redor de 50% no primeiro bimestre, o segmento de caminhões tem apresentado o pior desempenho entre os diversos setores da indústria automobilística brasileira, sem perspectivas de melhora no curto e médio prazos.
A intensidade da retração supera as expectativas até mesmo de analistas e montadoras mais pessimistas, que agora revisam projeções para baixo, com a baixa no ano podendo alcançar 25%. A surpresa se deve a fatores negativos que não foram levados em conta nas previsões iniciais.
Segundo a Anfavea (associação das montadoras), as vendas de caminhões recuaram 39% nos dois primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2014. As vendas da Volvo, que tem fábrica em Curitiba, caíram ainda mais: 57%. Outra empresa com produção no Paraná, a DAF elevou as vendas, mas o volume comercializado é baixo: subiu de 18 para 57 unidades.
Além da antecipação de compra em anos anteriores, do ajuste fiscal em andamento e do aperto nas condições de financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que já constavam nas primeiras estimativas, a crise política, os efeitos em cascata da Operação Lava Jato, a possibilidade de racionamento de energia e a crise hídrica afetam diretamente a atividade dos principais setores demandantes de caminhões.
Além disso, a disparada do dólar elevou os custos de produção sem ajudar as exportações, uma vez que boa parte da produção brasileira é vendida a países do Mercosul que também estão mal, como Argentina e Venezuela.
A junção de todos esses fatores tem pesado sobre a confiança dos empresários, que adiam investimentos na compra dos veículos.
O economista Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria Integrada, explica que os efeitos da Lava Jato têm prejudicado o setor, na medida em que afetam o mercado da construção – projetos de infraestrutura –, grande solicitante de pesados. A menor rentabilidade do agronegócio e da mineração, em função da queda dos preços internacionais das commodities, também influencia negativamente. Soma-se a tudo isso ainda o “esfriamento” do varejo, que provoca redução dos fretes, cujos preços já tinham sido afetados pelo reajuste de combustíveis.
O presidente da Anfavea, Luiz Moan, avalia que essa conjugação de fatores negativos faz com que as perspectivas para o curto e médio prazos não sejam nada otimistas.
“O segundo trimestre ainda deve ser difícil, e a expectativa é de melhora no segundo semestre, mas precisamos ver o andamento de algumas coisas”, afirmou, ressaltando que a Anfavea deve anunciar em abril revisão para baixo das projeções iniciais para todo o setor de autoveículos.
A Tendências também deve anunciar em breve revisão para baixo das previsões para o setor. De acordo com Rodrigo Baggi, atualmente a consultoria estima recuo de 6% nas vendas de caminhões em 2015 ante 2014, projeção que deverá ser revisada para retração entre de 20% a 25%.
FONTE: Frota e Cia