Há 28 anos rodando pelas estradas do país e escoando o que chega pelos portos de Itajaí e Navegantes, o caminhoneiro Antônio Marcos Trobaco, 46, assegura que manobra arriscada é conseguir pagar o diesel, manter pneus bons e ainda sim garantir comida no prato para os três filhos. É uma conta que não fecha. De tudo que giramos, 70% é custo, contou o motorista, que há dez dias não tira seu Volvo NL10, ano 1985, da garagem, em voto de protesto.
Sufocado pelos custos com manutenção, combustível e recebendo fretes cada vez menores, Antônio Marcos está com o caminhão parado desde o início dos protestos.
Em 1986, o valor do diesel era proporcionalmente 40% mais baixo que o litro da gasolina, diz o caminhoneiro. Hoje, um caminhão roda dois quilômetros com um litro, o que significa que não existe mais vantagem, completou. Em 15 dias, o reajuste de R$ 0,40 no combustível representou um forte impacto sobre a saúde financeira da profissão. Segundo motoristas, os seguidos aumentos nos combustíveis e o baixo valor do frete pago pelas transportadoras têm prejudicado o setor.
Um caminhoneiro em plena atividade, com rotas entre Santa Catarina e Estados da região Centro-Oeste, por exemplo, consegue arrecadar em média R$ 15 mil ao mês. O combustível representa 50% dos custos. A manutenção custa mais R$ 2.000, isso sem as trocas de pneus, que todo mês são pelo menos três, a custo de R$ 600 cada, explicou o caminhoneiro José Fernandes dos Santos, 40, que ainda tem um custo adicional de R$ 2.200 da prestação do veículo. Sobra uns R$ 3.000 para pagar o aluguel da casa e as minhas contas pessoais, calculou.
Sem expectativas de verem os preços dos combustíveis diminuírem nas bombas, a aposta dos caminhoneiros é o reajuste no preço do frete. Atualmente, a remuneração média no frete de um caminhão de cinco eixos é de R$ 1,20 por quilômetro rodado. A nossa reivindicação é de que esse valor seja reajustado para R$ 3,50x, explicou Marcos. Se atendidas as reivindicações dos caminhoneiros quanto ao valor do frete, no trecho entre Itajaí e São Paulo a remuneração do motorista pode subir até R$ 1.100.
Paralisação atinge portos de Itajaí e Navegantes
Os portos de Itajaí e Navegantes amanheceram na sexta-feira com os acessos fechados pelos caminhoneiros. Durante todo o dia, nenhum container entrava ou saia, enquanto a categoria ostentava faixas e cartazes, que além de cobrarem redução no diesel e reajuste no frete, ainda pediam melhores condições de trabalho nos portos. Nós não temos nenhuma estrutura de trabalho, somos obrigados a enfrentar filas de horas e nem banheiro podemos usar lá dentro, desabafou o caminhoneiro Rafael José Ariati, 27.
No maior porto do Estado, 800 caminhões deixaram de transportar os containeres. As 16h45, funcionários do porto de Itajaí apresentaram uma decisão liminar da 4ª Vara Cível de Itajaí, que garantia a desobstrução das vias no entorno. Diante dos manifestantes, a administração do porto informou que estão previstas para este ano obras de melhorias na infraestrutura, na ordem de R$ 5 milhões.
Em Navegantes, até a noite de sexta-feira, nenhum caminhão de carga entrava ou saia. Sei que é difícil ficar sem trabalhar, mas é uma luta para garantir nosso próprio futuro, completou o caminhoneiro Antônio Marcos Trobaco.
Bloqueios afetam exportações, segundo Fiesc
Um dos Estados mais afetados pela paralisação de motoristas, Santa Catarina pode sofrer as maiores consequências com o bloqueio das estradas, analisou o presidente da Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), Glauco José Côrte. Em reunião da entidade nessa sexta-feira, Côrte salientou que a agroindústria é o segmento mais prejudicado, tanto pela interrupção das atividades, quanto pelo risco de interrupção de contratos de exportação.
Corremos o risco de perder um grande patrimônio que levou anos para ser construído, que é a agroindústria, alertou. Santa Catarina é um Estado livre de febre aftosa sem vacinação. Além disso, recentemente conquistamos o mercado japonês. Já estão ocorrendo perdas de contratos de exportação e há risco de perda da certificação, completou.
Côrte pediu aos diretores da entidade que, em suas regiões, busquem o diálogo e o entendimento. Todos os relatos dos nossos industriais são de que estamos chegando no limite e que não há condições de suportar se o movimento continuar, afirmou, destacando que a Fiesc tem feito o que é possível no âmbito institucional.
FONTE: Notícias do Dia