Facchini

Erro de planejamento trava obra da BR-381

Quase um ano depois do início das obras de duplicação da BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, no Leste do Estado, um dos trechos mais complexos da rodovia, próximo ao município de João Monlevade, na Região Central, teve o contrato suspenso pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) até julho deste ano. E a retomada das obras, tão esperadas por moradores e motoristas que trafegam pela rodovia, pode ocorrer somente em 2019.
O motivo seria a falta de planejamento para execução das intervenções do lote 6, segundo relatório da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O documento foi elaborado com base nos relatos do engenheiro Ricardo Medeiros, coordenador do Comitê Gestor do Dnit para obras de duplicação, restauração e melhorias da BR-381 no Estado.
Conforme o relatório, ainda não foi encontrada uma solução técnica para a execução dos trabalhos sem interrupção total do tráfego na rodovia, o que causaria uma série de impactos negativos aos moradores e a quem trafega pelo local diariamente.
Por isso, o Dnit estaria conversando com o consórcio formado pelas empresas Isolux/Corsan/Engevix, responsáveis pelo trecho, para encontrar uma saída.
Embora não haja uma decisão quanto à melhor opção, uma delas, segundo o documento, é aguardar a conclusão de um desvio, que corresponde às obras dos lotes 9 e 10, chamado de variante de Santa Bárbara, para, então, iniciar as obras de duplicação do lote 6, anteriormente previsto para ser entregue em fevereiro de 2017.
De acordo com o Dnit, os lotes 9 e 10 ainda não foram contratados e a expectativa é de que isso ocorra somente em 2019.

Impactos
“O Dnit suspendeu o lote 6 e agora tem um prazo de 90 a 120 dias para tomar uma decisão, resolver esse impasse. O projeto original, que orientou o edital, informou que seria necessário desviar, por alguns meses, o trânsito na BR-381, o que geraria impactos sociais e econômicos muito grandes”, explicou o consultor do movimento Nova 381, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Cláudio Veras.
“Uma das soluções é suspender o lote 6 agora, fazer primeiro a variante de Santa Bárbara e depois realizar a paralisação definitiva do trecho 6 para a continuação das obras”, completou Veras.
Lentidão nos trabalhos preocupa e expõe motoristas a riscos na ‘Rodovia da Morte’
O deputado Wander Borges (PSB), um dos parlamentares que solicitou a reunião com o Dnit no início deste mês, programa agora uma visita ao trecho que corresponde ao lote suspenso no próximo domingo. Borges também pediu a realização de uma audiência pública sobre o assunto na Assembleia Legislativa.
“Vou rodar cerca de 100 quilômetros neste domingo. Resolvi fazer isso por conta própria. Pretendo visitar diversos trechos. Sabemos que as obras diminuíram o ritmo, os terceirizados estão com pagamentos em atraso, os lotes 8A e 8B, por exemplo, ainda estão na estaca zero. São lotes que têm maior adensamento populacional, em bairros de Santa Luzia, onde cerca de 1.500 famílias serão desalojadas. Mas, na reunião com o Dnit, não ficou claro como isso seria feito”, destacou.
O presidente da ONG SOS Rodovias Federais, José Aparecido Ribeiro, espera que o assunto seja tratado com urgência. “Cada minuto de atraso dessas obras significa mais mortes. É um assunto de segurança nacional. Em média, 180 pessoas morrem por ano na BR-381”, disse.
Mas o número, segundo ele, é maior. Um levantamento feito pela SOS Rodovias Federais e pela ONG Anjos do Asfalto mostrou que 40% dos feridos, decorrentes dos 1.200 acidentes graves que ocorrem por ano na rodovia, morrem a caminho dos hospitais ou dias depois.
“As estatísticas não mostram as pessoas que se ferem gravemente e morrem depois. Levando isso em consideração, são quase 700 mortes por ano na 381 entre BH e Governador Valadares”.

Execução não sairá do papel tão cedo, avalia especialista
Um erro de estratégia na execução do projeto de duplicação da 381 ficou evidente, na avaliação do engenheiro Silvestre Andrade, especialista em transporte e trânsito.
“Me parece um erro de estratégia. Na programação natural de execução do projeto, as obras da variante de Santa Bárbara deveriam ser prioridade, planejadas para serem realizadas primeiro”, afirmou.
Segundo Silvestre, uma solução seria a implantação de desvios simples para realizar a obra programada para o lote 6, próximo a João Monlevade.
“Pode ser que exista a possibilidade de aproveitar o sistema de vias locais para desvios, por um tempo determinado, para executar a obra, mas é preciso verificar se isso realmente é possível. Caso contrário, será necessário pensar em outras alternativas”, disse o engenheiro.
O consultor do movimento Nova 381, Cláudio Veras, afirma que o desvio por estradas menores pode ser uma das alternativas, além da espera pela licitação da variante, em 2019. “O Dnit pode optar pelo traçado original, mas haverá impacto nas estradas por onde passará o desvio”, ressaltou.
O mais provável, de acordo com o engenheiro Daniel Ramos, especialista em obras rodoviárias, é que as obras no local não sairão do papel tão cedo.
“A situação vai se arrastar por anos. Estão na fase de anteprojeto dos lotes 9 e 10. Ainda é preciso fazer projeto executivo, licenciamento ambiental, execução das obras. Não dá para entender porque tudo isso não foi previsto e abordado no projeto inicial, já que estamos falando de uma obra de grande porte, com investimento enorme”, destacou.
“Em resumo, mais uma vez, a consequência é a pior: não temos obras”, concluiu Silvestre Andrade.
FONTE: Hoje em Dia 
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