A falta de líderes evidentes no movimento nacional dos caminhoneiros provocou confusão nas negociações com o governo e se tornou um complicador para a aplicação das ordens judiciais que determinaram a liberação de estradas nos últimos dias.
A falta de unidade na linha de comando da categoria, porém, não é novidade. No final dos anos 90, quando outra mobilização dos transportadores ameaçou paralisar o país, a disputa de poder entre diferentes representantes da classe também minou as negociações com o Planalto.
Desta vez, a maior dificuldade é encontrar representantes formais dos caminhoneiros com capacidade de manejar os rumos da mobilização. O Comando Nacional dos Transportes, entidade recém criada e que procura assumir a linha de frente dos protestos, divide espaço com pelo menos outras seis associações nacionais de grande porte que afirmam terem sido surpreendidas pela paralisação.
Nos bloqueios, muitos motoristas dizem não ter vinculação sindical com qualquer dessas organizações. As decisões e próximos passos são tomados usando o aplicativo WhatsApp de celulares, que permite conversa simultânea com várias pessoas, além do envio de fotos e vídeos.
Desafio de representar uma classe numerosa
Como consequência, negociações com o governo e decisões da Justiça acabam muitas vezes em vias sem saída. Houve dificuldade para o Judiciário identificar os protagonistas da mobilização, e os ofícios judiciais não surtiram qualquer efeito. O movimento ganhou força no Estado e chegou a mais de 80 pontos de interrupção na quinta-feira passada.
Outro reflexo da falta de unidade é que, apesar de representantes da categoria terem assinado um documento com propostas do governo para acabar com os bloqueios, não puderam garantir a liberação das rodovias.
– O movimento começou de forma espontânea devido à urgência em que a categoria se encontra para sobreviver. Cabe agora a eles decidirem se devem ou não continuar a paralisação nas estradas – declarou o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno.
As razões para a repetição do fenômeno entre as paralisações de 1999 e atual seguem basicamente as mesmas: o desafio de representar uma classe numerosa, com cerca de 1 milhão de condutores, espalhada pelo país e formada por trabalhadores autônomos.
FONTE: Zero Hora