A cada quatro acidentes com pelo menos uma vítima fatal registrados entre 2010 e 2014 nas ruas e rodovias do Rio Grande do Sul, um envolveu caminhões ou caminhões-tratores. Os dois tipos de veículo correspondem a 4,6% da frota total do Estado e estiveram envolvidos em 2.180 ocorrências, que vitimaram 2.574 pessoas nos últimos cinco anos.
Já os ônibus, que correspondem a apenas 1% da frota total de veículos do Estado, estão ligados 6,5% dos acidentes com vítimas fatais. Um total de 597 acidentes envolvendo ônibus deixaram 683 vítimas fatais, entre 2010 e 2014. A diferença entre o número de ocorrências e o de mortes ocorre porque em um acidente pode haver mais de uma vítima fatal.
Esses foram alguns dos dados considerados alarmantes pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS) e apresentados, na manhã desta terça-feira, à federações, sindicatos e transportadoras. Reunidas na sede do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), elas discutiram possíveis caminhos para se reduzir uma grave estatística: nos últimos cinco anos, 10.327 pessoas perderam a vida no trânsito gaúcho.
Na opinião do diretor-geral do Detran/RS, Ildo Mário Szinvelski, é papel do Estado e das entidades ligadas ao trânsito encontrar soluções para que os números apresentados não se repitam.
— E, se for o caso, mudar a legislação federal, mudar as resoluções do Contran, propor alternativas para a qualificação da legislação. Este é um primeiro debate, um debate técnico, para que possamos de fato enfrentar essas demandas — complementa Szinvelski.
De acordo com Alessandro Castro, coordenador de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), grande parte dos acidentes com vítimas envolvendo ônibus e caminhões poderia ser evitada se houvesse um rigoroso cumprimento das empresas de transporte e logística em relação ao horário de descanso dos motoristas.
— O condutor profissional, hoje, tem que dirigir no máximo quatro horas e descansar no mínimo 30 minutos. No entanto, nós (PRF) flagramos diariamente motoristas dirigindo de 10 a 18 horas initerruptamente. Esse é um dos maiores problemas no trânsito: comprovadamente, mais de 15% dos acidentes são provocados pelo cansaço — afirma o inspetor.
Para o presidente do Setcergs, Afrânio Kieling, os dados considerados "assustadores" são reflexo de uma frota crescente (a média de crescimento é de 6,6% ao ano) e um sistema rodoviário defasado. Segundo ele, a reunião das entidades é um importante primeiro passado, mas a resolução do impasse também depende do governo:
— O Rio Grande do Sul tem somente 500 quilômetros de estradas duplicadas e não tem acostamento. Não quero culpar A ou B, mas temos que nos unir na busca de soluções.
Sobre os dados apresentados em relação aos acidentes envolvendo ônibus e caminhões, Kieling disse ser necessário um estudo melhor o índice, uma vez que esses veículos passam muito mais tempo no trânsito do que os outros.
— O dado que fala do ônibus, por exemplo, de que ele corresponde a 1% da frota, mas se envolve em 4,5% dos acidentes com vítima fatal, é preciso ter em mente que ele passa quase o dia inteiro na estrada, percorre distâncias muito mais longas do que outros veículos — ressalta.
Na avaliação do secretário estadual da Modernização Administrativa e dos Recursos Humanos, Eduardo Oliveira, a melhor alternativa é a reunião dos esforços em projetos de educação de trânsito, que devem assumir uma postura de "preservação da vida".
— Temos que levar em conta duas coisas fundamentais: a vida humana e a economia. O Estado se movimenta pelas estradas, transportando sua gente e escoando sua produção. Neste sentido, a educação não tem de ser apenas pedagógica, mas também cultural, de preservação da vida — concluiu Oliveira.
FONTE: Zero Hora
