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A partir do rastreamento de caminhões, projeto quer otimizar agendamento

Rastrear os caminhões que seguem em direção ao Porto de Santos e alterar suas janelas de agendamento, conforme o desempenho dos veículos nas estradas, são os principais objetivos da pesquisa realizada por dois estudantes do curso interdisciplinar de Ciências do Mar, do Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Os pesquisadores são os alunos Bruna Cristina Achilles e João Pedro Lago. Eles são orientados pelos professores Cledson Akio Sakurai e Caio Fernando Fonseca, especialistas no setor portuário e que já atuaram no desenvolvimento de projetos de gestão no Porto de Santos, como a Supervia Eletrônica de Dados, que cuida dos dados de operação de cargas da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a Autoridade Portuária. 
O tema foi proposto pelos próprios alunos, levando em conta que as dificuldades de acesso ao Porto e os consequentes congestionamentos nas estradas da região afetam boa parte da população. Ele surgiu durante uma aula em que o agendamento de cargas do cais santista era discutido. 
Diante do plano da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de implantar a identificação por radiofrequência (ou RFID, sigla em inglês de Radio Frequency Identification) em todos os caminhões, os alunos tiveram a ideia de aprimorar o projeto existente. O plano da ANTT prevê implantar etiquetas nos veículos. Essas peças, quando lidas por sensores de RFID, liberam os dados da carga e do próprio caminhão. Os sensores serão colocados em antenas instaladas ao longo das rodovias com destino a Santos. 
A pesquisa prevê identificar cada veículo e calcular o tempo necessário para a conclusão de sua viagem até o Porto, levando em conta sua velocidade média registrada até então. Se o sistema acusar que o caminhão chegará antes do horário agendado, a ideia é que a janela seja adiantada. Se for constatado que haverá alguma demora, o sistema poderá encaixá-lo em outro horário, para que nenhum elo da cadeia logística seja prejudicado.
“Essa linha de pesquisa é de acoplar, ao sistema de agendamento que já existe Codesp, ferramentas de simulação em tempo real. A ideia é que você consiga, ao mesmo tempo em que sabe a capacidade de recebimento do terminal, ir adiantando os atendimentos e compensar com os atrasados, para não ter falhas no serviço”, explicou o professor Caio Fontana.
Emergências
Segundo o especialista portuário, o projeto pode ser bastante útil em caso de emergências, como o incêndio que atingiu os tanques da Ultracargo, no Distrito Industrial da Alemoa, no começo do mês. Com a interdição do Viaduto da Alemoa, o único acesso aos terminais portuários da Margem Direita, milhares de veículos foram represados na Capital. 
Com o sistema proposto pelos alunos em funcionamento, os caminhoneiros poderiam ser avisados ao passar por pontos de checagem ao longo das rodovias. Assim, seria possível voltar à origem ou aguardar em pátios ou locais seguros antes da chegada ao Porto.
Uma segunda etapa do projeto vai definir como ocorrerá esta comunicação. Segundo o professor Cledson Akio, a ideia é que tudo aconteça de forma automática e sem o uso de telefones celulares. “A dificuldade é um pouco maior para fazer tudo de forma automática, porque teremos algoritmos mais complicados. Mas o plano é que o próprio software avise sobre interrupções”, explicou o professor.
Essas interrupções podem ser acidentes, trânsito intenso ou até mesmo a passagem de composições ferroviárias que, em alguns pontos, não permitem o tráfego de caminhões. 
Akio explica que, junto com o plano principal de dinamizar o agendamento, alguns pontos precisam ser analisados delicadamente. É preciso definir com clareza quais os requisitos a serem cumpridos pelos caminhões antes de adiantar ou atrasar uma janela. “São vários terminais e várias transportadoras envolvidas. Então, qual será a regra? Brinco que não dá para agradar a todos, mas, com critérios claros, podemos dinamizar o fluxo de maneira adequada”. 
Como os alunos se formam no final do ano, esses critérios serão definidos ao longo do estudo, iniciado no ano passado. O plano dos estudantes e dos professores é inscrevê-los em projetos de incentivo à pesquisa. 

Desafios
Entender e gerir a logística do Porto, considerando que sua Margem Direita (em Santos) tem um único acesso rodoviário, foram os maiores desafios do projeto de pesquisa que visa avaliar o transporte de cargas até o complexo marítimo.
A opinião é do estudante João Pedro Lago, que já concluiu a primeira parte de seu curso de Ciências do Mar e iniciou a formação em Engenharia Ambiental Portuária no campus local da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A partir de sua experiência nesse estudo, Lago pretende integrar o programa de mestrado da entidade para estudar a logística no transporte de cargas perigosas. 
“É uma ligação tênue e frágil o transporte de cargas no Porto de Santos. O desafio é gerir a logística sem impactos na Cidade e também na atividade do Porto”, destacou o João Pedro. 
A ideia da pesquisa surgiu da estudante Bruna Cristina Achilles. Por já ter três anos de experiência em outros trabalhos acadêmicos no setor portuário, João Pedro também atuou nos estudos.
“Nessa pesquisa, basicamente o mais interessante é o processo de organização dos gates (portões de acesso aos terminais portuários). O problema é que o Porto de Santos (Margem Direita) só tem uma via de entrada. Se acontecer qualquer coisa, desde uma carreta que tomba ou algum problema de eixo, há um grande problema. Então, o desafio é gerir a logística”, explicou o estudante.
Além das interferências que podem surgir por conta do tráfego rodoviário, existe outra possibilidade de interrupção das vias. São os conflitos rodo-ferroviários, que acontecem quando os caminhões precisam esperar a passagem de composições até que o trânsito seja novamente liberado. 
“Essa conurbação com a ferrovia, quando é preciso esperar até que 60, 70 vagões passem, o que demora um bom tempo, é pura matemática e cálculo de probabilidade para fazer com que o caminhão que está chegando reduza a velocidade e evite paradas ao longo do caminho”, afirmou João Pedro. 
A identificação com o setor portuário surgiu ainda no Ensino Médio, quando o jovem pesquisador fez o curso técnico em Administração de Empresas. As primeiras aulas de Logística já despertaram sua atenção para o transporte marítimo de cargas. 
No curso de Ciências do Mar, ele foi apresentado pelos professores a um novo campo profissional. “Conheci, gostei e quando entrei na faculdade, vi um pouco da atuação do professor Caio Fontana. Na logística, se tem a possibilidade de unir Exatas e Humanas. Isso me fez grudar e não soltar mais”, explicou.
FONTE: A Tribuna 
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