A regulamentação da Lei dos Caminhoneiros, publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União, atendeu parte das reivindicações da paralisação de fevereiro, mas os motoristas ainda mostram insatisfação. Na próxima quarta-feira, representantes da categoria se reúnem com o governo para discutir uma nova lista de pedidos. Se a resposta for negativa, "não há dúvida" que os condutores farão nova paralisação, avisa Carlos Alberto Litti Dahmer, presidente do Sindicato Motoristas Autônomos Cargas de Ijuí e um dos líderes do movimento no Rio Grande do Sul.
– Se no dia 22, o governo disser que não implementa as medidas, eu te asseguro que no dia 23 para tudo de novo – diz Dahmer.
Os caminhoneiros cobram a definição de uma tabela mínima de frete – que estabelece um preço mínimo do transporte por tonelada e quilômetro – e uma linha de crédito especial com três meses carência e juros de 2,5% ao ano. Eles também reivindicam a reserva de 40% do mercado do transporte de produtos oriundos do governo para as cooperativas de transportadores autônomos.
Em fevereiro, os protestos, que duraram quase duas semanas, mobilizaram motoristas em diferentes Estados do país. Sem abastecimento de alimentos, combustíveis e medicamentos, municípios de diferentes regiões chegaram a suspender serviços básicos.
Em pelo menos 60 cidades gaúchas, as aulas da rede pública foram interrompidas pela falta de combustíveis. Em outras localidades, o recolhimento do lixo também foi afetado pela escassez de diesel.
Outros líderes do setor tiveram uma reação semelhante a de Dahmer. Afrânio Kieling, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), explica que a regulamentação veio como esperado, contemplando algumas das questões que os caminhoneiros tinham em pauta e diz que vários pontos, como a flexibilização do descanso obrigatório, é muito positivo.
– Foi avanço para um setor tão castigado, com tanta pouca infraestrutura. Pelo menos conseguimos alguma coisa – comemora.
O vice-presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos dos Estados do RS e SC (Fecam), André Luis Costa, afirma que há benefícios para os caminhoneiros autônomos, como a isenção do pedágio sobre eixos suspensos, perdão de multas, aumento do sobrepeso e a possibilidade da criação de estacionamentos de descanso. Porém, ele faz uma ressalva, que, apesar de positiva, a lei não resolve o problema dos trabalhadores do setor.
– Tá se chovendo no molhado. Não se iludam. Foi criada uma ilusão que as coisas iam ser resolvidas com uma paralisação, pressionando o governo. O que estamos realmente aguardando e estamos em vias de conseguir, pela negociação e não pela paralisação, é a regulamentação que vai organizar o mercado de transporte no Brasil como um todo.
FONTE: Zero Hora