Mais de cem veículos aguardam a liberação de mercadorias pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) do Acre, que está de greve por tempo indeterminado desde o dia 21 de junho. O caminhoneiro Rodrigo Santana, de 39 anos, que está trazendo uma carga de produtos alimentícios e de perfumaria de São Paulo, nesta segunda-feira (1º), diz que recebeu a ficha para atendimento de número 157. Entretanto, deve ter a sua carga liberada somente na quarta-feira (3).
"Isso é um constrangimento muito grande para nós todos. O governo federal precisa tomar uma atitude com relação a isso. Nosso trabalho não é valorizado, estamos jogados aqui sem nenhuma estrutura. Até ir ao banheiro é difícil, pois precisamos pagar, quando a grana aperta fazemos onde dá e até urinamos no pneu do caminhão", contou.
Esperando atendimento há cinco dias, o caminhoneiro Antônio Luiz, de 61 anos, veio de Goiânia com um carregamento de produtos de limpeza. Ele relata que ainda não pegou senha, mas que deve esperar pelo menos três dias até ser atendido. Ele reclama da falta de local para tomar banho e dormir e diz que gasta ao menos R$ 70 por dia.
"Quem está nos ajudando é a comunidade. Antes a idade que tinha atendimento prioritário era a partir de 60 anos, agora aumentaram para 65 anos e ainda passo mais tempo esperando. Não tem banheiro e todo mundo faz onde dá. Nossa situação é muito difícil, estou aqui esperando e nem tem uma expectativa de quando serei atendido. Sorte que minha que a carga não é perecível.
O caminhoneiro Ronaldo Gonçalves, de 56 anos, diz que a principal dificuldade dos motoristas é a falta de banheiros para banho e necessidades fisiológicas. Gonçalves está parado com um carregamento de telhas há três dias e ainda não conseguiu uma senha para atendimento. Ele conta que é possível caminhar por entre os veículos e ver alguns trabalhadores urinando no local, pois precisam economizar para outros gastos pessoais como alimentação.
"Estou aqui com meus dois filhos que também são caminhoneiros e aguardam a liberação de documentos da carga. É tudo muito cansativo para nós, ainda não peguei senha e estamos aqui parados sem ninguém nos dar um posicionamento. Não temos ninguém para olhar por nós", disse.
Greve segue por tempo indeterminado
De acordo com o vice-presidente do Sindframa, Renato Santos, das mais de 100 carretas esperando liberação nesta segunda-feira (1º), 20 foram liberadas somente em Rio Branco, sem contabilizar os municípios de Cruzeiro do Sul, Brasileia e as transportadoras locais.
Segundo ele, o atendimento foi dobrado para liberar as pessoas que estão há cerca de oito a dez dias esperando. Santos destaca ainda que na quinta-feira (4) não haverá atendimento por causa do feriado de Corpus Christi, mas as pessoas que seriam atendidas neste dia vão receber atendimento na quarta-feira (3).
"Tinha aproximadamente 110 carretas esperando e atendemos aqueles caminhoneiros que estão esperando mais tempo. Hoje [segunda-feira (1)], fizemos mais de 60% dos atendimentos que precisavam ser feito no dia. O atendimento do feriado, que não deveria ser realizado, iremos trazer para quarta-feira (3) e atender dobrado como nesta segunda-feira (1). Acredito que serão liberadas ao menos 20 carretas", explicou.
Santos destaca que a greve continua por tempo indeterminado. Segundo ele, o governo ainda não tentou nenhum tipo de negociação com os trabalhadores, mas que no domingo (31), os assessores da presidente Dilma Roussef entraram em contato com o sindicato.
"O governador está calado e ainda não nos chamou para conversar. Os assessores da presidente nos ligaram e pediram que retornássemos a ligação, mas ainda não houve esse contato e não sei qual seria o teor da conversa. Até haver uma negociação a greve continua por tempo indeterminado", finaliza.
FONTE: G1