À espera de um novo sistema nacional de proteção ao emprego, as montadoras continuam recorrendo aos instrumentos disponíveis para gerenciar o excesso de mão de obra nas fábricas. Segundo sindicatos, a Volkswagen, no ABC paulista, e a Mercedes-Benz, em Juiz de Fora (MG), negociam colocar, a partir do mês que vem, novas turmas de operários em “layoff”, que consiste na suspensão temporária dos contratos de trabalho.
A Volkswagen, que no início deste mês já havia recorrido ao expediente para afastar 220 trabalhadores do parque industrial de São Bernardo do Campo, avalia aumentar o número de empregados em “layoff” no próximo dia 6, conforme informação do sindicato dos metalúrgicos da região, não comentada pela montadora.
Entre fevereiro e março, cerca de 800 empregados deixaram a Volks num programa de demissões voluntárias executado em sua fábrica no ABC. Antes desse corte, a empresa reportava aos sindicalistas um excesso de mão de obra de aproximadamente 2 mil trabalhadores na unidade.
O sindicato do ABC diz não ter um número atualizado da força de trabalho excedente na Volks após o agravamento da crise da indústria automobilística nos últimos meses.
Neste ano, as vendas da Volkswagen, a terceira no ranking das marcas mais vendidas no país, registram queda de 28,4%. De janeiro a maio, a montadora emplacou 66 mil carros a menos do que em igual período de 2014.
Além de ter dado férias coletivas de dez dias em maio na fábrica de São Bernardo, a Volks colocou em layoff 570 trabalhadores do complexo industrial de São José dos Pinhais, no Paraná, e outros 370 em Taubaté (SP), onde produz o Gol e o subcompacto Up!.
Em Juiz de Fora, a Mercedes-Benz estuda adotar a mesma medida. Conforme o sindicato, a proposta para evitar demissões é colocar entre 80 e 100 operários em layoff no mês que vem. Com a volta dessa turma em dezembro, outro grupo, de número ainda a ser definido, entraria em layoff, fazendo assim um rodízio de operários afastados da produção. Procurada pelo Valor, a Mercedes diz que está discutindo alternativas com o sindicato, mas que ainda não tem qualquer decisão a anunciar.
Na terça-feira da semana passada, com o fim das férias coletivas que pararam a produção da fábrica na primeira quinzena deste mês, a montadora de caminhões reintegrou 88 funcionários que estavam em “layoff” na fábrica mineira, onde são montados os veículos de carga mais pesados da marca.
Em São Bernardo do Campo, sede de seu maior parque industrial no país, a Mercedes, mesmo após demitir 500 operários no mês passado, informa que tem 1,75 mil trabalhadores acima do necessário, tendo em vista o reduzido ritmo de produção.
Tanto as montadoras como as centrais sindicais esperam que o governo apresente até o fim do mês um programa de proteção ao emprego que traga soluções mais duradouras contra demissões em diversas indústrias. A expectativa é que o novo sistema dê flexibilidade para as empresas reduzirem a jornada de trabalho em até 30%, com corte proporcional nos salários. A parcela do salário reduzida seria então divida entre trabalhadores, com diminuição da remuneração em até 15%, e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Pelas regras atuais do “layoff”, as companhias contam com o apoio de até R$ 1,3 mil do FAT por não mais do que cinco meses. As montadoras argumentam que o mecanismo é insuficiente diante de crises como a atual, que já dura um ano e meio.
Segundo a Anfavea, entidade das montadoras, o sistema em discussão não prejudica o ajuste fiscal porque as empresas e seus empregados afastados voltariam a recolher encargos como FGTS e INSS, o que não acontece hoje quando os contratos estão suspensos.
FONTE: Valor Econômico