Com 20 anos de estrada, mais da metade de seus 38 anos de vida, Marcelo Mariano da Silva, de Balneário Barra do Sul, encantou-se pela profissão devido à possibilidade de viajar e conhecer lugares diferentes, uma motivação comum aos de sua geração. “Hoje você está numa cidade e, amanhã, em outra”, contou ele. Em duas décadas de experiências e milhares de quilômetros percorridos, Silva já foi vítima de assalto e viu amigos perderem a vida na estrada ou desistirem da profissão. Também pensa em parar, mas só depois que tiver condições de viver e trabalhar num sítio em Rio Negro.
Por enquanto, a cabeça fica no sonho e os pés, no acelerador. O caminhoneiro que transporta refrigeradores para o Nordeste reconhece que as estradas no trecho estão em boas condições. O trajeto que antes demorava 45 dias para ser cumprido, hoje é feito em dez dias. Mas os pontos positivos não vão muito além disso. “Quando comecei, dava gosto viajar. A gente era bem recebido onde chegava. Tinha uma valorização maior do motorista, não essa discriminação de hoje”, comentou. Além da profissão, os salários também desvalorizaram ao longo do tempo.
“Hoje, ganho a metade de 15 anos atrás”, comparou, ressaltando que a carreira não é mais atrativa. “Se você perguntar, ninguém mais quer. Então, se não melhorar, vai acabar. Não é uma profissão para todo mundo. Tem que ter sangue na veia”, completou. De acordo com o caminhoneiro, as melhorias passam por mudanças na legislação – ele considera que a nova lei dos caminhoneiros só beneficiou as empresas – e por uma mobilização organizada da categoria. Os protestos no início do ano, que bloquearam diversas rodovias pelo país, mostraram, segundo ele, a falta de objetivos comuns.
“O que falta no meio dos motoristas é organização. Os caminhoneiros têm força, mas tem que ter uma proposta convincente. Primeiro eles pararam para, depois, fazer as reivindicações”, destacou, dizendo-se contrário às paralisações. “Não podemos parar porque temos que pagar as contas.”
Déficit
Mesmo que o status da carreira não seja o mesmo de outros tempos, ainda há jovens interessados em fazer da estrada seu local de trabalho. As vagas estão abertas. Estima-se que o país tenha um déficit de cem mil caminhoneiros. O salário costuma ficar entre R$ 1.500 e R$ 3.000. Um autônomo pode ganhar mais, porém, o tempo longe de casa vai aumentar na mesma proporção.
Com cinco anos de experiência, Ébano dos Santos Júnior, 24 anos, escolheu a carreira por paixão, mas preferiu não depender de longas jornadas, depois de quase um ano com períodos de até 20 dias longe de casa. Hoje ele trabalha para uma empresa no bairro onde mora, no Vila Nova, que transporta produtos para floricultura, fazendo linhas para São Paulo e no Paraná. São cerca de seis viagens por mês. “Fico, no máximo, uma semana fora. Todo fim de semana estou em casa.”
Pai há oito meses, quanto mais Júnior ficar perto da família, melhor. A distância e os perigos comuns na estrada são uma preocupação constante para ele, que já chegou a ser assaltado ao passar num pedágio. Segundo o motorista, a falta de pontos de parada ao longo do trecho é um dos principais problemas. “Nem todo lugar é seguro”, avaliou. Apesar das dificuldades, Júnior observa que a profissão ainda é atrativa. Ele pretende não parar tão cedo.“Comecei por gosto mesmo. Eu gosto do que faço. Já tentei abandonar, mas não deu certo. No começo pode ser ruim, mas depois que você começa, não para”, contou.
FONTE: Notícias do Dia