A indústria de veículos comerciais pesados está operando com ociosidade próxima de 70%, nas contas da MAN, segunda maior montadora de caminhões e ônibus do país. Segundo o presidente da empresa na América Latina, Roberto Cortes, o setor caminha para produzir cerca de 120 mil veículos neste ano, quando a capacidade instalada da indústria gira ao redor de 400 mil unidades.
A situação, lembrou Cortes, tem forçado as montadoras, inclusive a MAN, a lançar medidas de ajuste de produção e de mão de obra, como férias coletivas, fechamento de turnos de produção, suspensão de contratos de trabalho (“layoff”), redução na jornada laboral e programas de demissões voluntárias.
O executivo acredita que o setor tem sido afetado por uma conjunção de vários fatores adversos, a chamada “tempestade perfeita”, mas que têm data para acabar. A dificuldade é saber quando acontecerá o ponto de inflexão, disse.
Ao falar dos fatores temporários que estão derrubando o desempenho da indústria de caminhões, Cortes citou a instabilidade política, o baixo nível de confiança dos consumidores, a recessão econômica e o aumento dos juros no financiamento a bens de capital, bem como a alta de custos decorrente da inflação e da desvalorização cambial. O executivo falou também do impacto provocado pela paralisação de grandes obras de infraestrutura e pelo “corte drástico” nas compras de caminhões e ônibus pelo governo.
Segundo Cortes, o quadro de excesso tanto de capacidade instalada como da mão de obra tem sido agravado pela guerra de preços entre as montadoras, em meio a um cenário de acirramento da competição, e pela escalada de custos, tendo como consequência pesados prejuízos financeiros nas montadoras.
O executivo ressaltou que a retomada do mercado no ano que vem vai depender da melhora do ambiente político. Fora isso, a inflação terá que dar sinais de redução, assim como o governo terá que dar mostras de que conseguirá reverter o déficit fiscal, disse o presidente da MAN na região. Feito isso, será possível abrir caminho para uma recuperação gradual do hoje combalido nível de confiança de consumidores e empresários na economia, visto como o grande responsável pelo agravamento da crise na indústria automobilística. “Há condições para que tudo isso aconteça no segundo semestre”, afirmou Cortes, ao participar de seminário sobre perspectivas do setor organizado na capital paulista pela agência de notícias Autodata.
Na expectativa de uma melhora do ambiente até o fim do ano, Cortes acredita que o consumo de caminhões no país poderá reagir no ano que vem, aproximando-se do volume de 2014, quando esse setor vendeu 135,5 mil unidades. O executivo também aproveitou o evento para assegurar que a montadora mantém o plano, iniciado em 2012, de investir R$ 1 bilhão no país até o ano que vem.
FONTE: Valor Econômico