Facchini

Navistar tenta manter operação em Canoas

Com a redução drástica das operações de produção da fábrica da Navistar em Canoas (RS), onde atualmente são feitos dois modelos de caminhões International e motores 2.8 Turbodiesel fabricados sob licença pela divisão MWM exclusivamente para a General Motors, começaram a circular rumores de fechamento da unidade até o começo de 2016. Na semana passada, em reportagem do portal do jornal O Globo, o presidente do sindicato dos metalúrgicos local, Paulo Chintolina, reforçou essa possibilidade ao dizer que a empresa já havia comunicado aos funcionários que o motor da GM não seria mais produzido na unidade a partir de fevereiro, o que foi oficialmente confirmado pela montadora a Automotive Business na quarta-feira, 5 (leia aqui). Chintolina também afirmou que o centro de peças de reposição que funciona ali seria transferido para São Paulo, e que a linha de caminhões tinha poucas chances de sobreviver com poucos produtos e vendas em baixa. 
Procurada, a Navistar declarou que “não comenta rumores” e afirmou que as atividades continuam normais na planta gaúcha, que no total emprega hoje 700 pessoas. Contudo, fontes de mercado confirmam que a empresa se esforça para buscar alternativas para manter a produção de caminhões International em Canoas, inaugurada em 2013 após investimento de R$ 30 milhões. Para viabilizar a fábrica, está em negociação com fabricantes chineses que poderiam produzir seus veículos na mesma linha, que tem flexibilidade para isso. 
Estavam em curso conversas com a Sinotruk na China, que há dois meses teria desistido do negócio diante da recessão do mercado brasileiro. Mas outras marcas, no entanto, enxergam a oferta da Navistar como uma opção de baixo custo para iniciar definitivamente suas operações fabris no País, que deve voltar a crescer no futuro com mais vantagens para quem já estiver instalado aqui. 
FOTON E JAC
Uma empresa encaixa-se com perfeição como candidata a fabricar caminhões na mesma linha da International em Canoas. É a Foton, que representada pelo seu importador brasileiro assinou em 2013 acordo com o governo do Rio Grande do Sul para instalação de fábrica em Guaíba, que deveria iniciar atividades em 2016. Contudo, ainda existem pendências com o Estado na doação do terreno e o BNDES, via Banrisul, ainda não teria liberado o financiamento para viabilizar ao menos metade do investimento previsto de R$ 250 milhões. Com isso, as obras da planta nem começaram. 
Sintomaticamente, em entrevista publicada na semana passada no Jornal do Comércio de Porto Alegre, o diretor de relações institucionais da Foton Aumark do Brasil, Luiz Carlos Paraguassu, admitiu o atraso no projeto, mas garantiu que os primeiros caminhões da marca chinesa serão montados no Brasil a partir do início de 2016, mesmo que seja em instalações provisórias. Isso porque a empresa tem prazo até o ano que vem atender as exigências que aceitou ao se habilitar ao Inovar-Auto: pela promessa de produzir no País, pode importar os produtos que serão fabricados aqui sem o pagamento da sobretaxa de 30 pontos porcentuais de IPI. Caso a produção não seja iniciada conforme prometido, o importador terá de pagar os tributos não recolhidos. 
A unidade da Navistar em Canoas atenderia a essa necessidade imediata da Foton, com a vantagem de ficar localizada no mesmo Estado e, portanto, teria os mesmos benefícios oferecidos pelo governo gaúcho. Nenhuma das duas empresas confirmam essa negociação, mas fontes de mercado confirmam que elas existem. Procurada, por meio de sua assessoria a Foton Aumark confirmou que “está trabalhando em alternativas para antecipar o início da produção do caminhão nacional de 10 toneladas de PBT para janeiro de 2016”, mas que “mantém sigilo até a definição final dessas eventuais negociações”. 
Outra candidata a produzir caminhões junto com a International em Canoas é a também chinesa JAC, que na China já têm uma fábrica de motores em sociedade com a Navistar e negocia outras parcerias. Essas negociações acontecem há bastante tempo, pelo menos desde 2010, mas nunca se concretizaram. 
Como a linha de produtos International dos Estados Unidos só tem os modelos com motor à frente, os “bicudos”, que não são adequados para a legislação brasileira de transporte de cargas, no Brasil a empresa só vende um modelo com cabine sobre o motor (cabin over) e se recente da falta de recursos para desenvolver mais opções. Por isso há tempos vem buscando uma parceria (leia aqui). 
A cooperação com a JAC ou Foton, que têm linha completa de caminhões cara-chata, pode ser a única opção para manter aberta a linha de produção gaúcha da Navistar, que emprega 150 pessoas e com a retração do mercado nacional opera atualmente em ritmo extremamente lento: os dois únicos caminhões International vendidos no País, o pesado 9800 e o semipesado Durastar, somaram apenas 50 emplacamentos de janeiro a julho deste ano.
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