Quando o empresário Carlos Mira, ex-presidente de uma transportadora de cargas, participou de um concurso para startups, em 2014, no Vale do Silício, tinha certeza de que não levaria o grande prêmio. Afinal, ele concorria com parafernálias de tirar o fôlego. Havia gente que queria conectar o Google Glass (os óculos inteligentes do Google) aos mais diversos tipos de objetos. "Bastava você entrar em casa e, da porta, já podia acionar a manta térmica para esquentar a sua cama", diz o brasileiro.
O projeto de Mira era, supostamente, o menos "sexy" entre os 30 concorrentes do evento. Ele criou o TruckPad, um aplicativo para conectar caminhoneiros a cargas no Brasil. Hoje, metade da frota de mais de 2 milhões de caminhões do país pertence a motoristas autônomos. Quem leva refrigerante de Minas Gerais para o Rio Grande do Norte, por exemplo, não acha carga para voltar ao Sudeste. Assim, perde tempo e dinheiro. De acordo com estimativa da NTC&Logística, uma associação que representa transportadoras do setor, 20% dos caminhões em circulação andam vazios pelo Brasil.
Essa é uma das razões que explicam por que Mira, no fim das contas, venceu a competição e levou o título de "a startup mais inovadora" do mundo. "A inovação não se resume à criação de novas tecnologias", disse uma investidora ao empresário. "Inovação é usar tecnologias que existem para resolver um problema." A brasileira LBS Local, dona dos serviços de localização MapLink e Apontador, enxergou a nova empresa pelo mesmo ângulo. No início deste ano, adquiriu uma fatia minoritária da jovem companhia de Mira. O aplicativo movimentou R$ 100 milhões no último mês e, até agora, teve 140 mil downloads. Com o TruckPad, o motorista recebe diversas propostas de frete pelo celular ou tablet e escolhe a que melhor convém.
Na Google Play, a loja de aplicativos do Android, existem outras 13 opções de apps de fretes. Todos querem ser uma espécie de Uber para caminhoneiros. E não é só aqui. Nos Estados Unidos, o app Cargomatic anunciou recentemente que recebeu aporte de U$ 8 milhões para impulsionar a "uberização" do transporte de cargas. Entre seus investidores está o Volvo Group Venture Capital, o fundo de investimento de uma das maiores fabricantes de caminhões do mundo. Há caminhoneiros americamos relatando que, com o app, os negócios cresceram 30%.
No Brasil, esses aplicativos estão virando febre. "Aparece uma proposta de viagem atrás da outra. Assim, você roda menos vazio, porque tem destino certo", diz o motorista Ivan Rodrigues de Sousa. "Isso evita deslocamentos desnecessários e gastos com manutenção e combustível." Segundo estimativa da TruckPad, o ganho em produtividade que os autônomos podem ter aos usar o aplicativo é de aproximadamente 50%.