Facchini

Deputado critica governo federal sobre forma de tratar caminhoneiros

Motoristas de caminhão e transportadores rodoviários de carga em todo o país prometem deflagrar uma greve de grandes proporções a partir da próxima segunda-feira, 09. Segundo o líder do movimento grevista, Ivar Luiz Schmidt, as condições de trabalho da categoria só pioraram desde a última grande paralisação, realizada no início do ano. Questões como a criação de uma tabela referencial do frete, redução do custo do diesel e a renegociação dos financiamentos de veículos ficaram apenas na promessa.
Ivar destaca que este protesto vai além de uma pauta pontual da categoria e incorpora a pauta política pela saída da presidente Dilma Rousseff. “A nossa reivindicação é a renúncia porque achamos que é uma coisa mais rápida. O impeachment pode se arrastar e acabar em pizza. Precisamos fazer com que nossos políticos saibam que nós estamos de olho neles. E que nós vamos agir. Para males estremos, remédios estremos”, disparou Ivar.
O líder da paralisação mobiliza os caminhoneiros através do Facebook, por meio da página do Comando Nacional do Transporte. Grupos de WhatsApp estão sendo formados para ajudar na comunicação dos comitês de greve espalhados pelos estados. Ivar acredita que a grave crise econômica, política e ética colocará a população ao lado dos grevistas, até mesmo diante do risco de desabastecimento. “Mais de 80% da população brasileira está nos apoiando, eu tenho convicção disso. Não há conquista sem sofrimento”, ressaltou. Proprietário de uma pequena frota de caminhões, o empresário Cesar Paulo Philipsen garante que nenhum dos seis veículos da empresa vai rodar a partir da próxima segunda. “Está garantido que ninguém roda, ninguém sai de casa. Eu digo que, desta vez, a cobra vai fumar mais, porque a população está cansada e vem com a gente. Isso é questão de ter vergonha na cara, parar de trabalhar de graça”, protestou.
Em Brasília, o governo federal monitora de perto a mobilização dos caminhoneiros. Na Câmara, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), que tem uma ligação estreita com o setor por ter sido o autor da nova Lei dos Motoristas, criticou a forma como o Palácio do Planalto conduziu a pauta de reivindicações dos caminhoneiros. Acusado de incitar a greve de março, o parlamentar lamentou que a situação da categoria tenha se deteriorado tanto. “Obviamente que essa acusação era infundada, porque foi espontâneo o movimento. E no meio dessa manifestação nós buscamos algumas pautas que depois não foram levadas em consequência pelo governo.
Nada foi feito e a palavra não foi cumprida. Na verdade, o agravamento da situação, da crise, da perda de renda e do Custo Brasil, faz com que haja uma retomada dessa manifestação”, recordou Jerônimo. Sobre a incorporação do conteúdo político na pauta de reivindicação dos caminhoneiros, o parlamentar considera um movimento natural. “Qualquer um que defenda o impeachment quer dizer o seguinte: chega desse desgoverno! É uma forma que a sociedade está encontrando para dizer que quer mudança. Quando o caminhoneiro também vai com esse brado político é uma reação para dizer que ninguém aguenta mais”, argumentou.
Na condição de coordenador institucional da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Jerônimo destaca que uma paralisação nestas proporções pode provocar graves reflexos econômicos para o setor produtivo, em especial as agroindústrias, uma vez que a logística nacional depende quase que exclusivamente do transporte rodoviário. Para Jerônimo, o governo vai errar novamente se tratar a paralisação como uma disputa política. Na avaliação do parlamentar, a economia será fortemente prejudicada, mas o governo pode perder o controle sobre a sociedade em razão da inabilidade na condução do movimento.
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