Facchini

Paixão da TV na garagem

Na primeira metade dos anos 80, Dsqui Pontes era apenas um garoto da cidade de Santa Vitória do Palmar (RS) que tinha como diversão ficar à beira da BR 471 acompanhando o vaivém dos caminhões e procurando a oportunidade de fazer amizade com os motoristas no ponto de parada, só para poder entrar um pouquinho na boleia.
Foi em uma dessas tentativas que ele conheceu o Cigano, motorista da Rodoviário Michelon que costumava aproveitar as viagens para visitar a filha que morava na cidade. “Naquela época, o Cigano dizia que a Michelon era uma transportadora tão grande e importante que eles haviam comprado o LK 141 V8 375cv que fora utilizado pela Rede Globo para as gravações do seriado Carga Pesada”, conta ao se referir aos 26 episódios da série que retratou a vida dos motoristas Pedro e Bino, protagonizados pelos atores Antonio Fagundes e Stênio Garcia, entre 1979 e 1971.
Lá se foram mais de 20 anos até que Pontes, já eletricista de automóveis, reencontrou Cigano ao acaso. E tendo a história do caminhão permanecido em sua memória, não perdeu a oportunidade de perguntar sobre o seu destino.  “A história que eu conhecia é de que o caminhão havia tombado, mas o Cigano me contou que o caminhão havia sido vendido para um dos funcionários da Michelon, o Jarbas Rodrigues, conhecido como Serração. Mas o veículo foi clonado, a policia apreendeu os dois para averiguação e demorou cinco anos até que a Scania comprovasse que o original era o dele, por isso acabou desistindo de reavê-lo”.
Foi a esperança que ele precisava para ir atrás do caminhão, com pistas que não se confirmava e informações desencontradas. A última informação que conseguiu foi a de que o veículo já havia passado por mais dois donos e estava estava com um transportador de conteineres na região do Porto de Santos (SP).
“Minha família é toda de motoristas e embora muitos deles achassem que eu estava louco, convenci um tio a seguir comigo de Cachoeirinha (RS) até o Guarujá (SP) para procurar o LK. Eu havia assistido aos episódios e aquele era nada menos que o caminhão mais famoso do Brasil”, justifica Pontes antes de emendar que em setembro de 2015 passou 20 dias seguindo pistas pela cidade que pudessem levá-lo até o veículo. “Num lance de sorte eu o vi. Por motivo de doença, o dono, Sr. Duran, havia encostado-o há sete anos. Fiz uma proposta e aquele caminhão, o dos sonhos da minha infância, passava a ser meu”, se emociona ao contar.
“Além do atestado da Scania, acabei conhecendo a Sra. Silvia Trevisan, que havia trabalhado na Michelon e possuía a nota de compra do veículo, que por sinal, acabou sendo emitida como LKS, o único 4X2. Além disso, o caminhão possui as furações feitas para a passagem das câmeras e microfones para as gravações, e ainda tem as rodas e motor originais”, orgulha-se o proprietário, que agora sonha em ter o caminhão reformado e conhecer Antonio Fagundes e Stênio Garcia.
FONTE: Scania 
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