Os motoristas de caminhão-cegonha do Grande ABC irão interromper, a partir de hoje, a distribuição dos veículos zero-quilômetro fabricados pela Volkswagen. A paralisação, por tempo indeterminado, tem como objetivo pressionar a montadora para que não encerre os atuais contratos de prestação de serviço, o que geraria cerca de 50 mil cortes de postos de trabalho diretos e indiretos em todo o País. Apenas na região, são aproximadamente 5.000 fretistas.
A decisão pela greve foi tomada em assembleia dos cegonheiros ocorrida na manhã de ontem no bairro Demarchi, em São Bernardo. Segundo líderes do movimento, a Volkswagen sinalizou que pretende alterar o modelo de entrega dos carros. Atualmente, a montadora possui contrato com quatro grandes companhias de logística: Brazul, Tegma, Transauto e Transzero, que repassam o frete a cerca de 3.600 prestadores de serviço, entre motoristas autônomos e pequenas e médias empresas.
Entretanto, nos bastidores, a informação que circula é a de que, assim como ocorreu no ano passado, a Volkswagen tenta novamente deixar esse serviço sob responsabilidade exclusiva da Júlio Simões Logística, o que provocaria desemprego em massa. “Além disso, teríamos um enorme prejuízo, já que investimos muito na frota para poder atender a montadora conforme suas exigências”, diz um trabalhador que não quis se identificar. Ele afirma que, há cerca de três anos, a previsão da montadora era de atingir 5 milhões de unidades entregues no Brasil por ano, e que isso demandou gastos em melhoria dos equipamentos. “Porém, como entramos nessa crise, estamos com aproximadamente 1.500 cavalos e carretas parados”, lamenta.
No ano passado, a categoria fez greve por cinco dias pelo mesmo motivo. Oficialmente, a multinacional alemã nunca confirmou que pretendia colocar a Júlio Simões como prestadora do serviço de entrega dos veículos. Dizia apenas que “está (estava) realizando uma ação regular, que serve para a verificação e análise do posicionamento de preços de um serviço dentre as opções disponíveis no mercado”. A Volkswagen foi procurada ontem, mas não se manifestou.
A respeito da possível contratação da Júlio Simões, os motoristas relatam que já foi feita operação semelhante envolvendo as mesmas companhias há alguns anos, quando a empresa passou a ter exclusividade no transporte fretado de funcionários da montadora. “Caso a Volkswagen confirme a troca dos cegonheiros pela Júlio Simões, estará saindo de um escândalo na Alemanha e entrando em outro no Brasil”, comenta outro motorista que preferiu ficar no anonimato por medo de represálias. Ele refere-se às fraudes, reconhecidas pela direção mundial da montadora, para escapar de controles ambientais.
Sobre a possibilidade de outro escândalo no País, os motoristas citam a ação na qual o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, é réu e que investiga irregularidades na contratação da Júlio Simões para a compra de veículos e manutenção da frota da polícia.
FONTE: Diário do Grande ABC