É prática comum no mercado a utilização de carreta fabricada para um determinado tipo de caminhão trator, engatada em outro tipo de cavalo-mecânico como os veículos de tração são mais conhecidos.
Consequência disso são problemas, mais comuns do que parece, de distribuição de peso.
Quando questiono motoristas e empresários sobre essa questão, a resposta é sempre a mesma: “essa carreta tem duas posições de pino-rei e engata em qualquer tipo de caminhão-trator” Rebato dizendo: ”pode até engatar, mas não distribuirá o peso corretamente” Depois aparecem as multas por excesso no entre-eixo, e não conseguem entender o porque.
Mas por que isso acontece?
A carreta para cavalo “toco” (4x2) tem o balanço traseiro maior (destaque na figura abaixo), porque precisa transferir menos peso para o trator. O “rabo” dela é mais longo.
A carreta para cavalo “LS” (6x2 ou “trucado”) tem o balanço traseiro menor, porque precisa transferir mais peso para o trator. Por isso a suspensão é mais “traseira”. Ou seja, o “rabo” dela é mais curto.
Algumas fábricas de carretas deixam a suspensão na posição intermediária e classificam como “carretas multiuso”. Na verdade não estão corretas nem para um nem para outro tipo de trator.
Para ser “multiuso” de fato, alem de trocar o pino-rei de posição, seria necessário deslocar a suspensão de uma posição para outra. Em outros países isso é comum e a suspensão chama-se “sliding” ou deslizante. Mas no Brasil não temos esse modelo.
Por isso, para uso da lotação máxima: carreta fabricada para cavalo 4x2, só deve engatar em cavalo 4x2. E carreta para cavalo 6x2 só deve engatar em cavalo 6x2.
Observem no conjunto da foto abaixo:
O cavalo-mecânico é do tipo 6x2 (3 eixos), mas a carreta é para cavalo 4x2 (toco), facilmente observado pelo tamanho do balanço traseiro.
Se o embarcador desavisadamente carregar esse conjunto com a Lotação máxima para o PBTC do conjunto normal de 6 eixos (ou seja, 48.500 kg de Peso Bruto), ocorrerá excesso nos eixos da carreta (e falta de carga no trator). Pode até engatar, mas tem que re-adequar a distribuição da carga.
Por isso: atenção a esse pequeno “detalhe”.
ARTIGO: Rubem de Mello - Engenheiro Mecânico com pós-graduação em engenharia de produção e mestrado em engenharia mecânica. Foi engenheiro projetista da Bernard Krone do Brasil (fabricante de semi-reboques e da Ford New Holland (fabricante de máquinas agrícolas). Atuou ainda como engenheiro industrial, gerente de produto e atualmente é diretor, responsável pela área da qualidade nos serviços de inspeção de segurança de veículos sinistrados e alterados e inspeção de veículos que transportam produtos perigosos na Transtech Ivesur Brasil Ltda. Foi vencedor do Prêmio Volvo de Segurança no Trânsito de 1996.