Em alguns municípios brasileiros, o trabalho dos motoristas já faz parte da tradição local além de ser uma atividade essencial para o seu desenvolvimento. Em alguns lugares, a presença e a participação desses profissionais se tornou tão relevante para a economia, para a cultura e até para o imaginário popular, que as cidades receberam títulos associados aos trabalhadores ou ao setor do transporte.
No Dia do Motorista, celebrado neste 25 de julho, a Agência CNT de Notícias preparou uma reportagem para destacar alguns dos municípios que tiveram o setor do transporte como um dos alicerces de seu desenvolvimento.
Itabaiana (SE)
Em Itabaiana, no estado de Sergipe, a tradição do transporte é tão grande que a admiração pela atividade começa já com as crianças. Tanto que até uma carreata própria elas têm: cada um guia, pela cidade, seu pequeno caminhão de madeira, confeccionado artesanalmente, como forma de celebrar a profissão que, atualmente, responde pela movimentação de 60% das riquezas do Brasil.
O município sergipano recebeu, oficialmente, o título de Capital Nacional do Caminhão em 2014. Alguns números o justificam, segundo o projeto de lei que tramitou no Congresso Nacional: 10 mil caminhões para 90 mil habitantes. A estimativa contabilizaria veículos não emplacados na cidade, mas que são utilizados na prestação de serviços de transporte em Itabaiana. Conforme dados do IBGE, em 2015 a frota municipal era de 3.604 caminhões, o equivalente a um para cada 25 habitantes e a 8% do total de veículos da cidade.
“A presença de caminhões é tão forte em Itabaiana que influência, inclusive, na arquitetura das casas dos moradores desse município. Sendo grande parte delas com o pé-direito mais alto que o comum, para que possa abrigar uma garagem proporcional a um caminhão”, destaca, ainda, o projeto de lei que deu origem ao título de Capital Nacional do Caminhão.
O ex-secretário de Esporte e Lazer, Eventos e Turismo de Itabaiana Marcos Henrique de Lima, que participou do movimento para dar o título à cidade, conta que a origem dessa tradição está ligada à agricultura e à religião. Por lá, Santo Antônio é considerado o padroeiro da atividade. “Há mais de 50 anos, os motoristas começaram a se reunir para agradecer ao santo, nas comemorações de junho. Isso foi crescendo e incentivando outras pessoas a quererem seguir a profissão”, relata.
E cresceu tanto que a Festa dos Caminhoneiros de Itabaiana se tornou uma das mais conhecidas do país. O evento mobiliza toda a comunidade e motoristas de diversas localidades. Os caminhoneiros também se reúnem numa carreata, da qual participam cerca de dois mil veículos, o que faz dela uma das maiores do mundo. A Carreata Mirim, na qual a meninada leva os pequenos caminhões pelas ruas da cidade, também faz parte dessa grande celebração.
Tabuleiro do Norte, localizada a 210 quilômetros de Fortaleza (CE), é conhecida como Cidade dos Caminhoneiros. Conforme a Acatan (Associação dos Caminhoneiros de Tabuleiro do Norte), as estimativas são de mil caminhões para uma população de cerca de 30 mil habitantes. Foi em torno do transporte de cargas que a cidade se desenvolveu. “Essa é a principal atividade econômica do município”, diz o presidente da entidade, Rubismar Xavier de Lima.
Ele conta que os transportadores da cidade carregam todo tipo de produto, especialmente entre o Nordeste e o Sudeste do país. Com o crescimento do setor no município, outras atividades também se desenvolveram, como os setores metalúrgico e mecânico, com especialização em caminhões.
A tradição também leva famílias quase inteiras a trabalharem nas estradas. “Eu tenho três irmãos e um filho que são caminhoneiros”, conta Rubismar. Ele explica que isso se deve ao rendimento que a atividade proporciona, melhor que a maioria das opções que existem na região.
São Marcos (RS)
Já no Sul do Brasil está São Marcos, localizada a 167 quilômetros de Porto Alegre. O município, com cerca de 20 mil habitantes, recebeu o título de Capital dos Caminhoneiros por um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Por muitas décadas, a profissão de motorista foi uma das principais escolhas dos são-marquenses.
O presidente da AMSM (Associação dos Motoristas de São-Marquenses), Arisoli Macedo dos Santos, conta que a tradição vem da década de 1960, especialmente por causa de uma empresa que havia na cidade, chamada Rodoviário Michelon. Atuando no setor de transportes, ela chegou a empregar mais de 700 funcionários. “Há uns 50 anos, de cada cinco pessoas na cidade, uma tinha um caminhão”, relata.
Com o tempo, muitos empresários e trabalhadores do setor acabaram migrando para outros segmentos e outras regiões do Brasil. Mas o setor continuou forte (“aproximadamente 30% da população ainda trabalha em atividades ligadas direta ou indiretamente ao transporte”, diz Arisoli) e movimenta a economia do município, já que outras atividades se desenvolveram em torno dos caminhoneiros. A indústria metalmecânica, por exemplo, responde por mais de 60% da economia do município, segundo dados da prefeitura. O presidente da AMSM afirma que o município colhe os frutos desse título: “como nós temos esse reconhecimento, os nossos serviços, nesse ramo, recebem uma grande demanda. Tem gente que procura empresas da cidade justamente por causa desse título”.
É por essa representatividade, também, que a Festa dos Motoristas, que ocorre há 45 anos, mobiliza a comunidade e atrai motoristas de São Marcos e de outras cidades da região. A comemoração ocorre em outubro, junto com as celebrações de Nossa Senhora Aparecida.
FONTE: CNT