A profissão de caminhoneiro é bem diferente das outras. Sem horário definido de trabalho e sem o conforto de casa, ele tem que se adaptar a um modo de vida de contrastes, embora a situação atual seja bem melhor do que era há alguns anos. De forma bastante descontraída o Jornal de Jales reuniu um grupo desses profissionais da estrada para ouvir suas histórias. Eles comentam as condições de trabalho, muitas vezes difícil, mas falam também das coisas boas, como as amizades nos pontos de parada e o conhecimento de lugares, comidas, gente e culturas diferentes.
CONHECIMENTO
É o caso de Marcelo da Silva Xavier, de 35, casado, com 11 anos de profissão, transportando vários produtos, como adubo e combustível. Combustível exige mais cuidados, mais revisão, horários com mais descanso e área de isolamento sem usar celular na hora de carregar e descarregar, para reduzir riscos. Ele gosta de conhecer lugares, comidas, culturas e até vegetação de cada região, faz amizades com pessoas diferentes, viaja muito com a esposa, como se estivessem fazendo turismo. O começo foi um pouco difícil, mas depois foi se acostumando, mesmo porque, gostando do que faz, fica muito melhor, como afirmou. A questão da segurança na estrada ele procura resolver viajando quase sempre em comboios.
DE BERÇO
Gostar de ser caminhoneiro não foi difícil para Wagner Bonetto, o Zé Colméia. Seu pai era motorista. Ele ajudava limpar o caminhão e foi gostando do que fazia, até se identificar com a profissão que acabou adotando. Ele tem 36 anos e 16 como motorista. É casado e tem 2 filhos. Afirma que antes dirigir era mais difícil, mas a tecnologia ajudou muito e as estradas melhoraram. As condições de trabalho também vão melhorando. Até pouco tempo atrás não tinha parada para descanso, nem horário de almoço, era muita correria. Um dos problemas, segundo ele, é que hoje em dia muitos motoristas já começam dirigindo grandes caminhões, sem tomar cuidado, cometendo imprudências.
INFLUÊNCIA
Outro que aprendeu a gostar de ser caminhoneiro por influência de parentes foi Valdevino Nascimento Gouveia, o Vino, de 48 anos, casado, pai de dois filhos, há 22 anos na profissão. Ele tinha primos e tios caminhoneiros e logo começou fazer algumas viagens. Trabalhou com frigorífico, gaiolas e outros tipos de cargas que transportava para lugares distantes. Hoje em dia, como afirma, os caminhões são mais rápidos e com mais conforto. As empresas também começaram a respeitar os horários, embora às vezes a viagem demore um pouco mais.
ATOLADO
A história de Sinomar Pádua da Silva, o Malinha, de 40 anos, como caminhoneiro começou a 20 anos, puxando madeira de Rondônia. Tinha que atravessar o mato e não foram poucas as vezes em que ficou dois ou três dias atolado, sem tomar banho e dormindo mal, pela falta de conforto. A profissão de caminhoneiro, segundo ele, ainda é muito difícil, sofrida, mas antes era pior. Hoje as viagens duram no máximo 10 ou 12 dias e os horários são melhores, com mais descanso. Além de ficar fora menos tempo na estrada, também pode permanecer dois ou três dias em casa, junto com a mulher e os cinco filhos, sem aquela situação estressante de chegar e já ter que voltar.
CUIDADOS
Transportar produtos perecíveis, principalmente carne, exige muitos cuidados e experiência na rodagem e com a manutenção do caminhão para não estragar a mercadoria. É assim que Wilson Dias da Silva, o Pastor, de 47 anos, casado e pai de duas filhas se comportava em suas viagens. Ele está parado, no momento, mas trabalha com caminhão desde o início dos anos1990, fazendo principalmente o trecho Jales-São Paulo, quando, como se recorda, ainda tinha garoa na capital. Ele diz que precisa de mais união da categoria, como havia antes, quando um ajudava o outro. Agora ele tem que depender da assistência da empresa, ou da ajuda da estrada. Acredita que o medo de assaltos ajudou nessa desunião.
ABUSOS
Antes de ser motorista Nivaldo Pereira Alves, de 60 anos, casado, pai de dois filhos, trabalhou na roça e foi pedreiro. Ele se preocupa com os abusos provocados por bebidas e drogas para não dormir que deixam companheiros alterados e se arriscando nas estradas. Nivaldo trabalha com caminhão há quase 30 anos, sempre para empresas. Quando começou dirigia um caminhãozinho, que demorava dois dias para chegar a São Paulo, uma viagem que hoje não passa de oito horas.
ASSALTOS
Reginaldo Schiavenato, de 39 anos, dos quais 20 como caminhoneiro, já foi assaltado e ficou nas mãos dos marginais, quando trabalhava com câmara fria. Está sempre ouvindo histórias de assaltos, furtos e outros atos de violência nas estradas. Aprendeu a tomar certos cuidados, como parar nos locais menos perigosos e dormir próximo às bombas dos postos de combustíveis. Gosta de caminhão desde criança e sempre pensou ser motorista, uma profissão que adora e não pretende deixar.
FONTE: Jornal de Jales
FONTE: Jornal de Jales