O frete rodoviário de grãos está defasado em pelo menos 39%. O cálculo foi feito no último dia 17, em Maringá, durante reunião de transportadores paranaenses com o engenheiro Antonio Lauro Valdívia Neto, do Departamento de Custos Operacionais, Estudos Técnicos e Econômicos (Decope) da NTC&Logística. Uma viagem de ida e volta de um bitrem carregado com 37 toneladas de grãos de Maringá até o Porto de Paranaguá tem um custo calculado de R$ 7.620, sem aplicação da margem de lucro. Mas o valor praticado hoje no mercado é de R$ 4.625, segundo as simulações feitas na planilha do engenheiro. A diferença exata é de 39,3%.
O cálculo feito por Valdívia leva em conta um tempo parado médio de um dia para carregamento e um dia para descarregamento. Se esse tempo caísse para meio dia em cada situação, o valor do frete pela tabela da NT&Logística cairia para R$ 5.288 (30% menos). “É preciso ficar bem claro que o transporte no País é encarecido pela falta de infraestrutura nas empresas e nos portos. O veículo é um prestador de serviços e todo prestador de serviço trabalha com tempo. Se ficar parado na carga e descarga sobra pouco tempo para fazer efetivamente o transporte”, ressalta.
O engenheiro explica que o custo fixo do caminhão é rateado pelo número de viagens que ele faz. “Quanto mais ele fica parado, menos viagens tem para ratear o custo fixo. E aí que o transporte acaba encarecendo”, alega.
Ele ressalta que o transporte de grãos sofre mais que os demais segmentos porque tem muita concorrência. “É uma área fácil de entrar. Não tem barreiras. Quando um determinado setor está ruim, o transportador sai e vai transportar grãos. Quando o frete de grãos está bom, o transportador de outros segmentos também resolve carregar grãos”, justifica
O coordenador da Câmara de Agronegócios da NTC&Logística, Geasi Oliveira, admite que o setor não tem “cultura de fazer contas”. “Calculamos o combustível, o pneu, o salário do motorista, mas deixamos de lado outros custos que parecem invisíveis, mas são reais”, afirmou. A depreciação da frota, por exemplo, é um custo que não costuma aparecer nas planilhas das empresas, segundo ele.
Sem incluir todos os custos na planilha, de acordo com Valdívia, a médio prazo, as empresas estão fadadas a fecharem suas portas. O problema é que, conforme ele explica, a cadeia de transporte rodoviário de carga no Brasil é complexa e os clientes sempre conseguem encontrar quem faça o frete mais barato. “Os embarcadores espremem as empresas de transporte. Se elas se recusam a fazer um valor mais baixo, eles procuram os motoristas autônomos. Sempre vai ter quem aceite”, salienta.
Cenário difícil
A reportagem questionou o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte do Oeste do Paraná (Sintropar), Luís Carlos Zanella, sobre como as empresas estão sobrevivendo com uma defasagem tão grande no frete. Ele afirma que muitas estão quebrando. “Às vezes, a empresa olha só o custo imediato e quando se dá conta, quando chegam os demais custos, acabam entrando em dificuldade e tendo de fechar as portas”, declara.
Algumas delas, segundo Zanella, acabam se utilizando de manobras fiscais e colocando os motoristas para trabalharem além do limite legal para fecharem as contas. Pesquisa recente da NTC&Logística apontou que 50% das transportadoras estão com impostos em atraso.
“Na verdade, nós estamos sobrevivendo de crédito bancário. Quem tem nome está sobrevivendo assim. Posso te garantir que 100% das empresas da minha associação (são 22) estão vivendo de crédito”, afirma o presidente da Associação das Transportadoras de Maringá (Atromar), Reinaldo Muniz de Souza. Ele ressalta que empresas ligadas à entidade não estão carregando carga além do limite para compensar o frete ruim. Mas admite que os motoristas estão tendo de trabalhar mais.
Segundo Sérgio Shiraisha, da TDL Transporte de Maringá, as empresas estão “se segurando como podem”. “Existe demanda, mas os custos subiram. Estamos olhando para eles e tentando segurar ao máximo para sobreviver”, avalia. Para ele, a principal justificativa dos fretes baixos é o excesso de oferta de caminhões. “Foi uma falha da política do governo, que liberou muito crédito e propiciou a compra de uma frota acima da necessidade do País.”
Questionado sobre perspectivas de melhoras para os próximos meses, ele responde: “Só tenho expectativa para os próximos anos. Conversando com bancos, montadoras, a gente vê que as esperanças estão sendo depositadas para 2019. Tem gente falando que só em 2020. Nosso dilema hoje é conseguir sobreviver até lá”, declara.
Nova tabela
A reunião de Maringá serviu para o engenheiro Valdívia coletar dados para atualização da tabela referencial do segmento feita há dois anos. A diferença entre o frete correto e o praticado pelo mercado foi calculada com base na tabela antiga. A nova ficará pronta nos próximos dias. “Vamos atualizar nossa planilha de custo para ter parâmetros para negociar com nossos clientes. Sabemos que é um trabalho árduo. Vamos fazer uma ampla divulgação desta tabela com os valores que o transporte do agronegócio necessita para manter as empresas em atividade. Nem estamos falando de lucratividade”, ressalta Geasi Oliveira, que também é superintendente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Maringá, o Setcamar.
FONTE: Fetranspar