A transportadora Dalçoquio, uma das empresas mais tradicionais de Itajaí, fundada em 1968, apresentou ontem um pedido de recuperação judicial. A decisão é resultado de uma consultoria econômica e jurídica contratada há cerca de um mês, que verificou a necessidade de recorrer à Justiça para garantir a renegociação de dívidas.
A ação foi protocolada no fórum de Itajaí. Nela, a Dalçoquio, enrolada em diversas ações judiciais, resume sua situação em "indefinição de quotista proprietário, falta de credibilidade dos credores, agentes públicos, fornecedores e clientes, e diminuição de faturamento".
A transportadora alega que pretende, com a recuperação judicial, garantir a continuidade da empresa e manter as 1000 vagas diretas de emprego, produzir e garantir assim o pagamento aos credores.
Embora não especifique o tamanho da dívida, a empresa, vendida no ano passado pela família Dalçoquio para o empresário paulista Laércio Tomé, em um negócio de R$ 20 milhões, admite estar em dificuldades financeiras — o que levou a um recente enxugamento de mão-de-obra. As demissões de trabalhadores consumiram R$ 5 milhões em indenizações. Na semana passada, funcionários da filial de Canoas entraram em greve alegando falta de pagamento de indenizações e férias.
Paralelo a isso, a empresa perdeu as certidões negativas de débitos tributários, o que a impede de pleitear novos contratos com a BR Distribuidora, sua principal cliente.
Os principais problemas listados incluem o surgimento de dívidas que, de acordo com a empresa, não haviam sido listadas no contrato de compra e venda. Entre elas um recente bloqueio de R$ 2 milhões, resultado de uma dívida com uma empresa de advocacia, e o cumprimento de um mandado de busca e apreensão de seis caminhões que prestavam serviço para a BR Distribuidora. Os caminhões haviam sido dados como garantia pela administração anterior, em negócios de um posto de gasolina em Itajaí.
Laércio Tomé, que foi designado administrador da empresa pela Justiça, depois que a Dalçoquio passou a ser alvo de uma disputa entre sócios, afirma na ação ter investido R$ 30 milhões na compra de novos caminhões para a transportadora e no pagamento de antigas dívidas.
O caso foi parar na Justiça: Tomé entrou com uma outra ação para cobrar Augusto Dalçoquio, o antigo proprietário da empresa, pelos débitos. Augusto, por sua vez, recorreu ao Judiciário para tentar desfazer a venda.
O impasse ajuda a reforçar o clima de instabilidade da transportadora no mercado.
Como será
Caso o pedido de recuperação judicial seja aceito, a Dalçoquio se compromete a entregar em 60 dias um plano de pagamento aos credores.
A ação inclui uma série de pedidos à Justiça, entre eles a autorização para participar de licitações, a devolução de valores bloqueados em decorrência de outras ações judiciais, e a impossibilidade de as empresas credoras requererem vencimento antecipado das dívidas, compensação de créditos ou retenção de valores que têm a receber.
Sem dono
Em março do ano passado, quando adquiriu a Dalçoquio, Laercio Tomé colocou as ações da empresa em nome de outros sócios "em razão de assuntos envolvendo outras empresas de seu grupo econômico", conforme descreve na ação de recuperação judicial.
Ocorre que os sócios se desentenderam e, depois de diversas alterações societárias na Junta Comercial de São Paulo, a transportadora acabou registrada no nome de apenas dois deles — o que teria sido feito à revelia, segundo Tomé. Ele então recorreu à Justiça, que o nomeou administrador. O caso ainda aguarda julgamento.
FONTE: Zero Hora