Enquanto a agricultura bate recordes, o setor de transporte de cargas sofre para dar conta de escoar a produção. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentou recentemente um levantamento com a intenção de plantio dos produtores para a safra 2016/2017. A estimativa é que a produção nacional fique entre 210,5 milhões e 215 milhões de toneladas, 15% a mais do que a safra anterior, que passou de 186 milhões de toneladas. Seria um novo recorde. Mas, ainda assim, o feito não deve ser muito comemorado. É o que aponta Geasi Oliveira de Souza, vice-presidente de especialidades do agronegócio na Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística (NTC&Logística).
“As perspectivas de aumento de produtividade, que deveriam ser motivo de intensa comemoração, tornam- se um desafio para os gestores das operações do transporte rodoviário de carga (TRC). Seus orçamentos, que sempre buscam otimizar a relação entre custo e produtividade, são fortemente impactados pela elevação dos custos que a deficitária infraestrutura exige”, afirma. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 75% das cargas transportadas pelo Brasil estão relacionadas ao agronegócio. E, de toda a produção agrícola, 85% circula pelas rodovias do País. Para algumas operações específicas, como avícola, pecuária leiteira e papel e celulose, a intensa movimentação de insumos e matérias- -primas é realizada exclusivamente através do TRC. “Essa elevada dependência do modal rodoviário reflete diretamente em custos operacionais, já que contamos com um perfil de frota sucateada, com mais de 13 anos e com restrito uso de recursos tecnológicos. Neste cenário, vemos os impactos nas operações, tanto em termos de custos quanto de sustentabilidade”, afirma.
Outro aspecto que preocupa o setor é a elevada taxa de concentração dos embarcadores. Cadeias produtivas como a da soja são dominadas por um estrito número de empresas, o que pesa nas negociações de tarifas. “Você retira da mesa de negociação os pequenos e médios transportadores, que diretamente irão atender as mesmas demandas como agregados ou contratados de transportadores maiores, gerando um resultado ainda mais desfavorável”, diz.
Segundo Souza, o setor sofre também com a incapacidade de atendimento nos portos. As filas e a falta de coordenação são pontos cruciais, uma vez que os caminhões ficam improdutivos durante horas ou até dias. “Uma medida que poderia ser aplicada no curtíssimo prazo seria o destravamento da Lei Geral dos Portos (Lei 12.815/13), que tornaria o nosso setor portuário ágil e competitivo, já que esse processo representa 96% das exportações”, afirma.
Outro aspecto no curto prazo que poderia aumentar a competitividade do TR C, segundo o especialista, seria o investimento em infraestrutura. A baixa taxa de investimentos em infraestrutura registrada nos últimos anos vem acelerando o apagão logístico do País. “Nossa malha rodoviária é uma verdadeira guerra, na qual se perdem mais de 40 mil vidas por ano, seja pelas más condições das estradas, seja pelo excesso na jornada de trabalho, pelo excesso de peso e pelo excesso de frotas”, denuncia.
FONTE: Diário de S.Paulo