É muito comum para quem cruza a BR-101 no Norte do Espírito Santo observar caminhões puxando madeira. O tamanho dos veículos impressiona, pois na região reinam as composições tritrem com quase 30 metros de comprimento e mais de quatro metros de altura. A carga, toras de eucaliptos, tem como destino a unidade da Fibria (antiga Aracruz Celulose), no município de Aracruz, onde é processada e transformada em celulose. Os caminhões pertencem às diversas transportadoras que prestam serviço para a Fibria.
Reportagem da Revista O Carreteiro foi procurar conhecer um pouco dessa operação e ouviu motoristas e gerentes florestais das transportadoras, os quais, Por questões contratuais com a produtora de celulose, preferiram não se identificar.
A escolha por composições do tipo tritrem, segundo os profissionais do volante, se deve à maior capacidade de carga. Os veículos contam com três semirreboques formando uma composição de nove eixos interligados por quinta roda de 3,5 polegadas e três articulações. “Este sistema permite à composição girar 360 graus num raio de 25 metros”, explicou um motorista. “O conjunto oferece mais estabilidade e segurança à operação, se compararmos, por exemplo com as composições ligadas pelo cambão”, acrescentou outro.
Além do tamanho e peso dos tritrens, o transporte de madeira enfrenta ainda dificuldades das estradas de terra, principalmente quando chove, porque os caminhões adentram na floresta para serem carregados com o eucalipto. “Nos períodos de chuva, as dificuldades nas estradas de terra aumentam, devido à capacidade de sustentação do piso, somada à intensidade de uso”, explicou um colega.
Outro motorista que também preferiu não se identificar destacou as dificuldades em transitar no Sul do Estado Bahia, onde as estradas não possuem acostamento em quase toda extensão. “Mais um aspecto importante a ser considerado, lembrou, é que grande parte dos usuários não respeitam a distância mínima de segurança entre os veículos em trânsito, uma prática que aumenta o risco de acidentes”, acrescentou. Porém, procurou explicar que atualmente os caminhões não estão mais trazendo eucaliptos da Bahia para serem processados na fábrica de Aracruz.
Hoje, a madeira carregada no Estado nordestino é embarcada no Terminal de Caravelas e transportada por modal marítimo até o Terminal de Barra do Riacho.
O terminal está localizado em área anexa ao Portocel, controlado pela Fibria e localizado a 1,7 km da fábrica. O sistema de transporte marítimo da empresa é inédito no Brasil e retirou cerca de 100 viagens de caminhões tritrem da BR 101 por dia. Em razão disso também reduziu o número de acidentes, já que há um intenso fluxo de veranistas sem conhecimento do tipo de trânsito e das composições que trafegavam em grande quantidade no Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo.
Por se tratar de uma composição com grandes dimensões, entre outros fatores, todos os motoristas das empresas envolvidas nesta operação recebem treinamentos de direção defensiva e orientação do mapeamento de risco das estradas, com instruções sobre a velocidade e marcha adequada no trecho a ser percorrido.
“Além disso, os motoristas passam por reciclagem anual de habilidades, readaptação à função quando retornam de férias e avaliação diária de taxa etílica (as empresas não toleram o consumo de álcool durante o trabalho e aplica ações corretivas a quem infringir a norma). Treinamentos práticos também são ministrados”, afirma um dos gerentes.
Ele conta também que em determinado ponto do trecho percorrido a empresa mantém uma sala para que os motoristas façam estimulação física, controlem a pressão arterial e recebam orientações de saúde de um enfermeiro do trabalho. Todo profissional é instruído a ser cortês no trânsito e facilitar ultrapassagens.
O gerente explica também que existe todo um planejamento diário por tipo e quantidade de madeira a ser transportada de acordo com a origem (floresta), considerando a distância de cada frente operacional. Os caminhões são programados para cumprir determinado horário de chegada no carregamento e de retorno à fábrica. A operação é distribuída ao longo das 24 horas, a fim de evitar acúmulo de veículos num único horário nestes pontos. Já o carregamento é feito nas estradas dentro das florestas. As distâncias percorridas pelos caminhões variam de 15 a 200 quilômetros.
A capacidade de carga de uma composição tritrem normal é de 52 metros cúbicos ou 74 toneladas de Peso Bruto Total Combinado (PBTC e grande parte dos implementos (tritrens) utilizados pela Fibria foi desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de São Carlos, a UFSCar. As carrocerias são patenteadas e tem como diferencial a estrutura de aço mais leve e resistente.
Marcelo Luis Claus, consultor de operações florestais da Fibria, explica que o peso padrão de um conjunto completo de tritrem (as três unidades de carga mais o cavalo-mecânico) é ao redor de 29 toneladas. “Com a nova tecnologia, a tara do conjunto cai para cerca de 23 toneladas”, destacou.
Os benefícios da nova carroceria não se resumem apenas à redução de peso, mas também no aumento do volume de carga, o qual chega a 10%. “Isto significa que com 90 caminhões é possível transportar determinado volume que anteriormente demandava de cerca de 100 composições”, revela Claus. Ele explicou que para isso foi necessário mudar o design do equipamento, com rebaixamento da caixa de carga, o que possibilitou o aumento do volume.
Para puxar os tritrens são utilizados cavalos mecânicos traçados 6×4 com potências acima de 400 cavalos. Os caminhões trafegam a uma velocidade máxima de 80 km/hora quando vazios e a 70 km/hora carregados.
Vale dizer que existe uma norma que proíbe caminhões carregados de qualquer transportadora de ultrapassar outros que também estejam carregados. Também é exigida distância mínima de 150 metros entre os tritrens, evitando que se formem comboios, o que traria maior dificuldade para outros veículos fazerem ultrapassagens.
A maior parte do transporte da madeira até a fábrica da Fibria é feita por rodovias. Usam-se ainda barcaças entre o terminal de Caravelas (BA) e Portocel (ES), e trens das áreas de fomento em Minas Gerais até Aracruz. Ao chegar à fábrica, as toras de madeira são picadas em pequenos cavacos e processadas quimicamente para separar a polpa de celulose da lignina. A polpa é branqueada, seca e enfardada para o transporte.
A celulose produzida é transportada ao terminado de Portocel em caminhões. Anualmente, navios da Fibria entregam 4,6 mil toneladas de celulose para clientes da Ásia, Europa e dos Estados Unidos. O complexo industrial da empresa no Espírito Santo é suprido por uma base florestal própria com 197 mil hectares de plantios de eucalipto, intercalados com 123 mil hectares de florestas nativas preservadas nos Estados do Espírito Santo, Bahia e Minas Gerais.
FONTE: O Carreteiro