O exame toxicológico dos motoristas de caminhão está valendo há um ano e já dá para fazer um balanço das mudanças que ele provocou.
Os motoristas tiveram que se adaptar, mas parece que o exame pode ter contribuído para a queda nos acidentes nas estradas federais.
Uma amostra do pelo do braço ou uma mecha de cabelo. Desde março do ano passado, motorista que quer tirar a habilitação profissional ou renovar uma carteira nas categorias C, D e E, tem que passar por este teste toxicológico, um tipo de exame antidoping.
“Ele aponta o uso de substâncias tóxicas, drogas de maneira geral, como cocaína e derivados, maconha e derivados, opiáceos, anfetaminas”, explicou a gerente do laboratório, Ana Paula Pimenta.
Em uma das maiores áreas de descanso de caminhoneiros da Região Metropolitana de São Paulo, perto das rodovias Dutra e Fernão Dias, o exame toxicológico já provocou uma pequena mudança. O pessoal da limpeza não quis gravar entrevista, mas contou à reportagem do Bom Dia Brasil que antigamente encontrava muitas embalagens de cocaína no lixo. Agora, isso diminuiu bastante.
O caminhoneiro gaúcho Enrique Ebbing, que acabou de fazer o toxicológico pra renovar a carteira, não se incomodou de cortarem um pouco do cabelo dele e aprova o teste: “O pessoal está andando menos à noite, você já nota menos movimento e o pessoal andando mais de boa, cumprindo horário. Eu acho que melhorou”.
O colega dele, de Santa Catarina, transporta cargas especiais e também fez o exame recentemente, sem susto. Mas nem todos os caminhoneiros estão tranquilos assim.
“Pessoal estava preocupado, dizendo: ‘eu vou ter que dar uma parada para conseguir fazer senão vai ter problema. Vai ter problema’. E aí teve uns aí que tiveram problema e não conseguiram fazer. Estão aí sem poder trabalhar por causa disso aí”, contou o caminhoneiro Edson Loppnow.
Entre março e dezembro do ano passado, mais de 10 mil motoristas profissionais fizeram o toxicológico, em todo o país. 21% tiveram resultado positivo. O balanço da Polícia Rodoviária Federal do mesmo período mostra uma diminuição nos acidentes envolvendo caminhões nas estradas federais de 30 mil para 22 mil: queda de 26%. Mas houve redução também nos acidentes que não envolvem caminhões, de 20%.
E a própria PRF diz que o controle do uso de drogas não pode ser apontado como o único fator da redução. Precisa lembrar que a crise reduziu o número de veículos circulando. E a polícia diz ainda que aumentou a fiscalização nas rodovias.
A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego é contra o exame. Diz que ele só fiscaliza alguns meses antes da habilitação e depois não há nenhum controle sobre o uso de drogas pelos motoristas, durante 5 anos, até a renovação da carteira.
“Nós precisamos constatar o uso da droga na direção veicular, como fazemos com relação ao álcool: usando o etilômetro para poder constatar, no momento da direção”, afirmou o diretor da Abramet, Dirceu Rodrigues Alves Júnior.
O Denatran defende o teste e diz que ele ajuda a reduzir acidentes e mortes nas estradas. “A sustentação para essa janela de larga detecção, que são os 90 dias anteriores ao exame, é fundamentada em pareceres de psiquiatras. Que eles explicam que aquele dependente químico, ele, tanto no momento que está sob efeito da droga, quanto nos momentos em que ele não está sob efeito da droga, mas ele está sofrendo a crise de abstinência, as reações dele são totalmente fora do normal”, explicou o coordenador de Educação no Trânsito do Denatran, Francisco Garonce.
Em todo o país, o teste só não é obrigatório no Maranhão e em Tocantins, por causa de liminares da justiça.
O estado brasileiro com mais resultados positivos para o uso de drogas é Mato Grosso do Sul: 62%.
Em Mato Grosso do Sul, a liminar caiu no fim do ano passado. Desde então, todos os motoristas de ônibus e caminhões voltaram a ser obrigados a fazer o exame toxicológico para tirar ou renovar a habilitação. Segundo o laboratório, o exame demora, em média, 15 dias, entre a coleta de material e o resultado
O Elvis tem 8 anos de profissão e renovou a CNH pela segunda vez: “Demorou 17 dias para pegar a habilitação. Vai dar uma selecionada boa dos motoristas – os que trabalham certo e os que trabalham errado”.
Todos os caminhoneiros ouvidos pela reportagem se queixaram do preço do exame. O valor varia de um estado para o outro. E, segundo o Denatran, a média nacional é R$ 290.
FONTE: Bom Dia Brasil