Um mês após a realização de bloqueios em rodovias de Mato Grosso em defesa de uma tabela de preço mínimo para o frete, entidades ligadas ao movimento dos caminhoneiros no Estado seguem à espera de uma resposta à crise que preocupa a categoria. De acordo com Miguel Mendes, diretor executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso (ATC), “os protestos foram uma forma de chamar a atenção das autoridades para um importante setor da economia brasileira que está à beira da falência”.
Reivindicado pelo setor, o projeto 528/2015 da tabela de preço mínimo aguarda análise na Câmara dos Deputados.
Para Mendes, o problema maior está no repasse do valor pago pelo frete, que depende de intermediários. “Hoje as tradings têm seus próprios operadores de logística, quando não têm também um agenciador de carga, e assim o preço pago ao transportador acaba sendo o menor possível”, diz. O que se quer com o projeto de lei, segundo ele, não é tabelar o preço do frete, mas estabelecer um valor mínimo que dê condições de a categoria cobrir o custo do transporte. “Partindo desse mínimo, vamos ter a possibilidade de negociar, porque hoje o preço do transporte não é negociado, mas imposto por parte das contratantes”, afirma. “Eles colocam o valor lá embaixo e quem não faz conta ou precisa do dinheiro para pagar a prestação do caminhão acaba aceitando carregar a mercadoria”, explica.
Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa as tradings, disse por meio de sua assessoria de imprensa que não iria se pronunciar sobre o assunto. Enquanto a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) afirmou, também via assessoria, ser contrária ao projeto de tabelamento de frete, já que acredita que os preços devem ser regulados pelo mercado, em função da lei da oferta e da procura.
O texto do PL, que ainda depende de aprovação na Câmara e no Senado, para chegar a ser submetido ao presidente, prevê que os preços mínimos sejam fixados levando-se em conta, prioritariamente, a oscilação do valor do óleo diesel e dos pedágios, ficando sujeitos a alteração semestral.
De acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o preço do frete da soja de Sorriso a Rondonópolis em dezembro de 2015 era de R$ 104/ton, tendo caído para R$ 79 um ano depois, em dezembro de 2016. “Neste momento, isso já muda um pouco, porque entramos na safra e a tendência é de aumento”, afirma Ângelo Luís Ozelame, gestor de análise de mercado do Imea. Segundo Ozelame, agora em fevereiro, a cotação média do frete da soja no trecho citado está em R$ 112/ton. Há um ano, o valor era de R$ 100/ton.
Na opinião de Mendes, a definição de um preço mínimo pode ser positiva também para os produtores. “A tabela pode funcionar como um referencial, uma base para eles saberem, conforme o tipo de mercadoria e a distância, quanto está sendo cobrado pelo frete. E, sem dúvida, comparar esse valor àquele que descontam dele”, completa o representante da ATC.
FONTE: Portal DBO