Facchini

Roubos de carga no Rio chegam a 10 mil em 2016

O roubo de carga no Rio de Janeiro se transformou em uma das principais fontes de renda dos traficantes. Foram mais de dez mil ataques no ano passado. A polícia sabe os pontos das rodovias em que os bandidos agem e as favelas para onde as cargas são desviadas, mas não consegue deter a disparada desse tipo de crime. Com 30 anos de experiência rodando nas estradas do país, o caminhoneiro Sebastião Alves conta que tem muito medo de passar pelo Rio de Janeiro.
“Eu viajo para todo canto do Brasil, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas, o pior lugar que tem é aqui mesmo”, diz.
Os roubos de cargas vêm crescendo desde 2011. De lá para cá, triplicaram no estado. Em 2016, foram registrados 9.870 casos, um recorde desde que esta estatística começou a ser feita há 24 anos.
“Já fui roubado, duas vezes, abordado na rua, fechado com carro pequeno, seguram, fiquei 12 horas no meio do mato. Levaram caminhão, levaram dinheiro, levaram carga, levaram tudo, é horrível cara, sensação de impotência, é muito ruim”, diz outro caminhoneiro, Rogério Vaz.
Os ataques de quadrilhas provocam grandes prejuízos para quem trabalha com cargas no Rio. A federação que representa os empresários do setor estima que os roubos do ano passado geraram perdas de R$ 1 bilhão.
“Nós atingimos índices intoleráveis no Rio de Janeiro. Acabamos de ganhar o troféu de campeão nacional de roubo de cargas”, diz Venâncio Moura, diretor de Segurança da Fetranscarga.
Os caminhões são interceptados nas estradas, principalmente na Dutra, na Washington Luiz e na Avenida Brasil.
“É insegurança pura, muito medo, entendeu, eu mesmo vim para cá, mas eu venho contra a vontade, porque é muito complicado você viajar para cá, diz o motorista Carlos Roberto.
E as rotas de fuga das quadrilhas estão perto de favelas. Somente na região dos complexos da Pedreira e do Chapadão, na Zona Norte do Rio, a polícia já identificou 11 rotas usadas por ladrões de carga. A polícia não quer divulgar quais são estas rotas para não atrapalhar as investigações.
As investigações da delegacia especializada contra o roubo de cargas mostram mudança no perfil dos bandidos. Antes eram especializados neste tipo de crime. Agora, cada vez mais traficantes ameaçam os caminhoneiros em busca de uma nova forma de rendimento.
“Quando ele percebeu que o roubo de carga pode servir de instrumento para eles auferirem grana para comprar armamento e droga, eles passaram a focar nessa modalidade criminosa”, explica o delegado Maurício Mendonça de Carvalho.
Entre as quadrilhas que já foram presas, a polícia descobriu a participação de vários funcionários das empresas de cargas.
Entre os donos de transportadoras, a sensação é de abandono. Nem a proteção de um seguro eles conseguem ter.
“As empresas que fazem esse tipo de seguro não querem fazer mais porque torna-se inviável, você faz a primeira vez, é roubado, faz a segunda vez, é roubado, e os valores são muito altos”, diz o empresário Marcos Jorge Nunes
Para o representante dos empresários do setor, as medidas adotadas pela polícia não estão tendo resultado.
"Todas essas providências que estão sendo tomadas estão adiantando muito pouco, porque a polícia não está tendo poder de resposta”, afirma Venâncio Moura.
Outros crimes também bateram recordes no Rio de Janeiro. Os roubos a pedestres  foram quase 94 mil. Os roubos de veículos passaram de 41 mil.
Para o antropólogo e ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar coronel Robson Rodrigues, os índices refletem a crise que também afetou a política de segurança.
“Há uma mensagem que a segurança acabou, então isso gera disputa de território entre facções criminosas, isso está gerando um problema sério, você tem facções mais fortemente armadas numa tensão, num jogo de perde e ganha onde um quer invadir o território do outro”, diz o antropólogo.
Para a sociológa da Uerj Alba Zaluar, é preciso repensar as estratégias de combate ao crime.
“É óbvio que, para você ter uma política de segurança, você tem que ter uma estratégia, e eu realmente não sei qual é a estratégia porque não foi explicitada, parece que o problema é a falta de estratégia”, diz a socióloga.
Um motorista que tem medo de se identificar já foi assaltado e conta que vive em pânico.
“Me sinto com medo, aterrorizando, se a pessoa passar perto de mim de moto eu já fico olhando e achando que é alguma coisa. Todo mundo tem medo, todo mundo lá precisa trabalhar, tem família, e a gente não sabe o que pode acontecer.
E o custo do aumento do roubo de cargas vai parar no bolso do consumidor. As transportadoras do Rio de Janeiro já investem de 15% a 20%  em segurança, com seguro, com rastreadores com escolta, e isso vai se refletir no preço do produto.
A PM diz que começou, no ano passado, a Operação Mercadoria Legal para combater o roubo de cargas e que atua nas regiões mais visadas pelas quadrilhas.
A Polícia Rodoviária Federal disse que, no ano passado, prendeu quase 4 mil pessoas nas estradas, cinco vezes mais do que no ano anterior, e que, desde dezembro, reforçou a fiscalização na Baixada Fluminense e na Região Metropolitana.
A Polícia Civil disse que as delegacias têm desenvolvido trabalhos de inteligência para identificar e prender os bandidos.
FONTE: Bom dia Brasil 
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