O alto índice de roubo de cargas no Rio começa a refletir no serviço prestado pelas seguradoras. Algumas empresas já se recusam a realizar entregas no estado, enquanto outras exigem uma contrapartida para que o risco seja reduzido. Presidente da Comissão de Transportes da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Alexandre Leal destaca essa dualidade. Uso de rastreadores E divisão da carga em caminhões menores para fazer a distribuição no Rio são algumas das condições impostas pelas empresas.
Ele ressalta que as seguradoras exigem um adicional de aproximadamente 30% do valor da carga para arcar com possíveis prejuízos. Durante a manifestação dos caminhoneiros na manhã de ontem, muitos relataram que estão abandonando a profissão por causa da violência e da falta de segurança nas estradas do Rio.
Já os empresários questionaram os altos preços cobrados pelas seguradoras para quem faz transporte de cargas para o Rio e que isso acaba encarecendo os produtos para os consumidores.
“Os governantes precisam agir. A realidade é que o estado está sem recursos e não tem poder de respostas. Os empresários já esgotaram suas iniciativas para tentar evitar os roubos. O desabastecimento será certo se continuar assim”, diz o coronel da PM, Venâncio Moura, diretor de segurança do Sindicato de Empresas de Transporte de Carga (Sindicarga). Somente no ano passado o prejuízo chegou a R$ 619 milhões, com 9.862 casos, o terceiro recorde consecutivo em 25 anos, segundo pesquisa divulgada pela Firjan.
Protesto e líder de roubo preso
Vítimas de violentos ataques de quadrilhas especializadas, alguns inclusive com mortes, caminhoneiros pararam o trânsito na manhã de ontem na Avenida Brasil contra o aumento dos roubos de carga no estado. Em paralelo ao ato, as polícias Militar, Civil e Federal prenderam, em ação conjunta que levou quatro meses de investigação, Jefferson Targino da Silva, de 31 anos, apontado como um dos principais líderes dos roubos de cargas do Rio e ligado ao Comando Vermelho (CV).
Diante dos protestos, a Secretaria de Estado de Segurança anunciou mudanças na estratégia da Força Nacional que atua desde maio no Rio para conter os roubos de cargas.
Cerca de 420 homens da Força Nacional serão remanejados da Alerj e do Palácio Guanabara para áreas de maior incidência criminal e o efetivo também será aumentado para cerca de 600 homens.
“Já encaminhamos o novo planejamento para a Secretaria Nacional de Segurança Pública, para que a gente possa implementar uma forma de patrulhamento e atingir melhor essa mudança na mancha criminal que ocorreu a partir do início do trabalho no dia 15 de maio”, explicou o subsecretário estadual de Comando e Controle, Rodrigo Alves. “Será mais dinâmica , além de atender mais de uma região. Terá aumento do efetivo, que passam por treinamento no Core”.
Apesar da ajuda da Força Nacional, maio registrou um aumento de 42% nos casos de roubo de cargas, comparado a maio de 2016, segundo o Sindicato de Transporte de Cargas do Rio. O Instituto de Segurança Pública (ISP) ainda não tem dados sobre maio, mas revela que em abril houve aumento de 125% no número de casos, em relação ao mesmo período de 2003.
Caminhoneiros questionaram o posicionamento dos agentes da Força Nacional. “O governo mandou 300 homens da Força Nacional, mas eles ficam parados e não patrulham nada. É preciso que se feche os acessos às comunidades onde ocorrem esses assaltos. Nossos funcionários saem para trabalhar, mas não sabemos se eles voltarão vivos”, criticou o empresário Charles de Souza Araújo.
Com faixas e cartazes, os caminhoneiros pediram mais segurança. ‘Ministro da Justiça, o RJ faz parte da federação?’, questionava uma das faixas. ‘Até nós sabemos onde o carregamento está. É só ir na Pedreira’, alertava outra. Cerca de 7.400 alunos do município ficaram sem aula ontem pela manhã por conta da operação.
A Polícia Federal informou que entrou na operação devido aos roubos frequentes de caixas eletrônicos e agências dos Correios. “Existe uma nova modalidade de financiar o tráfico”, disse o delegado Marcelo Prudente, da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Patrimônio (Delepat) da PF.
FONTE: O Dia