O Paraguai vai inaugurar um corredor terrestre inovador para escoar a soja brasileira, uma iniciativa governamental que procura posicionar o país como um centro logístico da América do Sul e que correu riscos devido à rejeição dos caminhoneiros locais de que o grão fosse transportado em carretas bitrem do Brasil.
A "guerra dos bitrens" (caminhões com dois semirreboques) terminou nesta quarta-feira depois que os caminhoneiros paraguaios suspenderam a greve. O governo paraguaio prometeu aos grevistas que o grão será transportado por veículos convencionais e que vai permitir um aumento no preço do frete.
Com isso, o caminho está pronto para que seja habilitado em 20 de fevereiro o novo porto da cidade de Concepción, no norte paraguaio, de onde a soja brasileira sairá em embarcações pelo rio Paraguai, uma via fluvial que, em parte, resolve a problemática de um país sem litoral.
A nova conexão fluvial marcará a ocaso em longo prazo do "Corredor Graneleiro do Norte", que parte da cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil, a cerca de 215 quilômetros. Pela nova via circularão 1 milhão de toneladas de soja procedentes do Mato Grosso do Sul.
Trata-se de um projeto experimental de um ano de duração e que tem como meta superar a cifra de 1 milhão de toneladas transportadas do Mato Grosso do Sul, que produz no total 10 milhões de toneladas de soja.
A maior parte dessa soja sai pelo Oceano Atlântico pelo porto de Paranaguá (Paraná) e o corredor paraguaio oferece uma oportunidade de economia nos custos de transporte devido à maior proximidade de Concepción.
Na medida em que maiores volumes do grão forem canalizados para esse novo corredor, isto terá grande efeito em toda a economia do norte paraguaio, e também na indústria e no transporte fluvial deste país, que dispõe da terceira maior frota deste tipo no mundo.
Os caminhoneiros locais também serão beneficiados, pois estão autorizados a transportar 50% dessa carga.
Foi precisamente a modalidade terrestre de transporte que provocou a greve dos caminhoneiros. Os transportadores paralisaram as atividades de aproximadamente 30 mil veículos depois que tioveram conhecimento da resolução do Ministério de Obras Públicas e Comunicações do Paraguai em 17 de janeiro.
A resolução permitia que as carretas bitrem do Brasil transportassem essa soja, alegando que se tratava de uma carga nova e que, portanto, isto não prejudicaria os caminhoneiros paraguaios.
Não obstante, os transportadores locais entraram em greve para exigir a derrogação dessa normativa, que - segundo o sindicato da categoria - foi aprovada de forma unilateral pelo governo e que, de acordo com o setor, deixava os caminhoneiros paraguaios em desigualdade de condições, pois eles não dispõem deste tipo de veículo.
O protesto aumentou com medidas de desobediência civil, como um desfile de caminhões que paralisou o trânsito no centro de Assunção e causou alarme nos produtores locais, que alertaram que toneladas de soja estavam "encalhadas" nos silos em pleno momento de colheita devido à greve.
Finalmente, na última sexta-feira, em uma reunião com produtores do Mato Grosso do Sul, o ministro de Obras Públicas paraguaio, Ramón Jiménez Gaona, anunciou a suspensão por um ano da entrada dos bitrens brasileiros, que serão substituídos por caminhões convencionais.
Com o ajuste, a carga será dividida: 50% do transporte será feito por caminhões brasileiros e os outros 50% por paraguaios.
O ponto final de destino será um porto que até agora não funcionava em pleno rendimento e que será operado pelo Consórcio Baden, após um processo de contratação feito pela Administração Nacional de Navegação e Portos (ANNP) do Paraguai.
No entanto, essa contratação levantou uma nova polêmica depois que veio à tona que o pai do ministro é acionista de uma das empresas que compõem esse consórcio.
O ministro respondeu que a participação de seu pai é minoritária e que, de todas formas, isso não teve influência na contratação, que foi responsabilidade da ANNP, sem a intervenção do ministério.
Agora, o Paraguai precisa modernizar sua frota de caminhões e incorporar as carretas bitrem para consolidar um corredor no qual o governo está trabalhando há quatro anos, como um projeto de Estado.
FONTE: EFE