Andreas Renschler, CEO mundial do Grupo TRATON, acompanha de perto o que acontece no Brasil e aponta ações que considera fundamentais para o país seguir na rota de crescimento. Em artigo publicado hoje (31/10) no jornal FAZ, um dos mais prestigiados da Alemanha, ele detalha as oportunidades que enxerga para a relação econômica bilateral, considerada estratégica.
Recém-criado como nova identidade da antiga Volkswagen Truck & Bus, o Grupo TRATON é um dos maiores players mundiais da indústria de veículos comerciais com as marcas Volkswagen Caminhões e Ônibus, MAN e Scania. A organização tem no Brasil um de seus principais mercados, liderando as vendas de caminhões no país.
Confira abaixo, na íntegra, o artigo de Andreas Resnchler que, além de CEO do Grupo TRATON, é também o presidente do comitê Sul-Americano da Federação das Indústrias Alemãs (BDI).
O Brasil votou! Não há mais espaço para experimentos!
O Brasil votou. Esta “eleição das eleições” foi mais do que a simples escolha de um novo presidente. Foi o culminar de uma espécie de autodescoberta política para a quinta maior nação do mundo. Concepções políticas para o país foram fortemente questionadas. A análise dos casos de corrupção envolveu figuras públicas centrais. Os partidos consolidados foram desafiados - respostas claras, mas muitas vezes insuficientes. Além disso, as chamadas fake news impediram por diversas vezes discussões construtivas sobre tópicos substanciais. Tudo isso acabou por polarizar as pessoas, dia após dia, fazendo crescer a tensão dentro e fora do país. Em uma eleição democrática, o Brasil decidiu-se por um recomeço, com a figura de Jair Bolsonaro. O que isso significa para o país? E para a economia alemã?
Uma coisa é certa: Muitas tarefas aguardam pelo novo governo e as expectativas são consequentemente altas. Ele deve reunir novamente a sociedade dividida e criar um quadro político estável. E deve levar em conta que não há mais espaço para experimentos e retórica vazia, se fazendo necessário um sólido trabalho político. Porque o país precisa de crescimento. Com quase oito por cento de déficit orçamentário, a recuperação do prejuízo dos cofres públicos não é mais uma questão de querer. O mesmo se aplica às reformas estruturais, como a previdência e o sistema tributário. Há também muito a se fazer no que diz respeito ao desenvolvimento da infraestrutura, uma vez que os problemas de logística têm sido um empecilho para a concorrência. Sem uma melhora de cenário, não será possível obter de forma suficiente os investimentos tão necessários para o país. E, é claro - esses investimentos precisam de segurança a longo prazo.
Mesmo que o Brasil consiga um saldo equilibrado como potência agrícola e de matérias-primas e tenha uma baixa dívida externa, tal não será suficiente a longo prazo. Somente uma economia moderna e diversificada é garantia de crescimento estável. Já existe um plano concreto: Com a digitalização, espera-se um salto de produtividade até 2022. A ênfase está na Internet das Coisas para Cidades Inteligentes, Saúde, Indústria e Agricultura. As chances de sucesso são grandes: A maioria dos jovens brasileiros é bastante aberta às novas tecnologias. Os brasileiros passam mais tempo na internet do que qualquer outra nacionalidade - são cerca de 90 milhões de usuários de internet somente em smartphones. Não é à toa que as mídias sociais tiveram um enorme papel durante a campanha eleitoral.
Para nós, na Alemanha, fica agora a pergunta: Como podemos apoiar o recomeço no Brasil? Com mais de 1.300 empresas alemãs, o país é o terceiro maior receptor de investimentos alemães fora da Europa. Politicamente, a parceria estratégica com o Brasil celebra seu décimo aniversário este ano - a Alemanha possui tal relação com somente oito países. A grande importância de nossa cooperação bilateral está, portanto, fora de questão. Contudo, esta cooperação precisa ser cuidada e expandida. À primeira vista, muita coisa poderia continuar da mesma forma - isso se recentemente não tivéssemos tido um forte vento contrário: A concorrência com os EUA, China e outros países ameaça tirar a posição que a Alemanha sustenta no Brasil em muitos setores. Por isso, devemos aproveitar as oportunidades oferecidas pelo recomeço que se aproxima. O país é a maior economia da América Latina e representa cerca de um terço do PIB e da população da região! São oportunidades mais do que suficientes para fazer uso do potencial inovador da economia alemã no desenvolvimento do Brasil. A Indústria 4.0 e os novos conceitos de logística e mobilidade são apenas alguns dos campos em que a economia alemã é líder mundial.
Ainda que as eleições tenham inicialmente fragmentado a sociedade, os 210 milhões de brasileiros já mostraram por diversas vezes ser capazes de encontrar rapidamente o caminho de volta para a unidade. A conformidade legal existe, as instituições são sólidas. Portanto, não devemos nos preocupar com o cenário de tensão. E o governo sabe: Ele será julgado por suas ações, e não por seu discurso. Existem muitas razões para acreditar. O país é mais forte do que seus desafios - e a economia alemã pode e irá contribuir para o seu sucesso!
FONTE: MAN Latin América
FONTE: MAN Latin América