Com o objetivo de amortizar os altos custos gerados pela Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas, conhecida popularmente como tabela de fretes, dezenas de empresas brasileiras em diferentes segmentos, especialmente no setor agroindustrial, seguem investindo na aquisição de frotas próprias.
Dentre essas empresas destaca-se o Grupo Predilecta. Referência no segmento de alimentos processos, a empresa investiu recentemente R$ 15 milhões na criação da Trans Predi, transportadora criada logo após a paralisação nacional de caminhoneiros em 2018 e que tem como principal objetivo atender exclusivamente as operações do Grupo.
“Já vínhamos em preparação para dependermos menos de transportadoras e ter mais mobilidade nas entregas. Com o tabelamento, aumentamos e aceleramos o plano. Nossos caminhões atendem quatro plantas”, destacou o sócio-diretor, Antônio Tadiotti.
De acordo com o balanço mais recente do Grupo, a Trans Predi atende atualmente 60% de todas as entregas realizadas pela empresa. A expectativa para os próximos meses é de aumentar a proporção para até 75%.
“Nossa matéria-prima está muito próxima de cada fábrica. Os caminhões saem com produtos finais para entrega em grandes redes e voltam com embalagens. Com essa estratégia, reduzimos a ociosidade dos carros e cortamos custos”, revelou Tadiotti.
Em Santa Catarina, a cooperativa de alimentos Aurora, especializada na produção e comercialização de carnes, vegetais e massas também avalia a aquisição de frota própria diante do aumento de custos com o transporte da forte eminência de uma nova greve de caminhoneiros.
“O frete da carga seca encareceu assim que começou a vigorar o tabelamento, mas os produtores acabaram absorvendo esse impacto depois. Nas demais cargas, como as de frigorífico, já pagávamos preços acima do mínimo”, disse o gerente de operações da marca, Celso Capellaro.
“A própria existência dessa regulação é ruim, mas o cálculo dos preços piora a situação. Na primeira tabela, o frete de baixa distância era muito mais caro e a carga seca tinha preços mais altos que as refrigeradas, o que não faz sentido.”
De acordo com o presidente da cooperativa, Mario Lanznaster, algumas filiais já investiram na aquisição de caminhões próprios. “A medida foi um tiro no pé dos caminhoneiros porque fez as empresas estudarem alternativas, o que pode quebrá-los. Quando ouvimos falar em nova paralisação, nossa vontade é comprar 200 caminhões”, afirmou.
Já no segmento varejista, a Gazin vem intensificando os investimentos na ampliação da frota própria desde a última greve nacional de caminhoneiros. Atualmente a empresa possui 600 veículos, responsáveis por 80% das entregas realizadas.
“Optamos por manter uma frota porque temos operações fortes em regiões com custo alto, como o Norte e o Centro-Oeste”, afirmou Osmar Della Valentina, presidente do grupo.
No início de 2019, gigantes do agronegócio, como a Amaggi, Coamo e JBS se destacaram pelas compras expressivas de caminhões, também com o objetivo de driblar o tabelamento de fretes estabelecido pelo Governo Federal.
TEXTO: Lucas Duarte