Reprodução/RJ1 |
Tomado de assalto na Avenida Brasil na última sexta-feira, 21 de agosto, por volta das 6h30 da manhã, o caminhão carregado de creme de leite foi levado pelos criminosos para a favela Nova Holanda, no Complexo da Maré e estacionado a 200 metros do 22º Batalhão da Polícia Militar (Maré), às margens da Linha Vermelha, na Zona Norte da capital carioca. O local é conhecido como um estacionamento do crime organizado.
Desde então deu-se início a uma verdadeira luta para tentar recuperar o caminhão. Mesmo com o registro da ocorrência na 21ª DP (Bonsucessso), detalhamento do ocorrido e a localização exata do caminhão, conforme indicação do GPS, a PM alega que não pode realizar operações na comunidade.
Segundo o motorista do caminhão, além da impossibilidade de entrarem na favela para recuperar o caminhão, os policiais ressaltaram que o veículo foi deixado entre duas escolas. Juntamente com outros funcionários da empresa, ele chegou a entrar na favela à noite, encontrou o veículo, mas teve medo de tirá-lo de lá.
“É uma falta de respeito com o cidadão, que paga seus impostos certinhos, tem seus caminhões pagando prestação e acontece uma coisa dessas”, lamentou o motorista.
Em entrevista ao RJ1, o porta-voz da PM fluminense, coronel Mauro Fliess, ressaltou a deliberação do Supremo Tribunal Federal (STF) que impede a realização de operações policiais em comunidades cariocas. O coronel destacou ainda que "estamos diante de um crime patrimonial", ou seja, não há vida em perigo, e que a Maré é uma região muito perigosa para qualquer intervenção policial.
“É importante destacar que esse batalhão não é localizado na Avenida Atlântica, uma vizinhança tranquila, onde a gente pode circular com tranquilidade. Ele é vizinho de uma das comunidades mais perigosas do Rio de Janeiro, onde tem uma guerra de facções. É um ambiente muito hostil onde a ação da polícia é fortemente rechaçada por criminosos locais. No momento, inclusive, estamos impedidos de usar aeronaves. ”, disse o coronel.
Questionado sobre a possibilidade do caminhão não ser recuperado, o porta-voz oficial da PM disse que corporação precisa, primeiro, se planejar para a ação garantindo a segurança física dos policiais e da comunidade local.
“Tão logo a corporação tenha capacidade operacional de planejar, de reunir dados de inteligência, e conseguir chegar àquele local com segurança, com a convicção de que estarão minimizados os riscos de vida do policial e das pessoas de bem naquele local, iremos, sim, realizar essa operação”, destacou.
Confira na íntegra a nota da Polícia Civil:
A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informa que o caminhão que teria sido roubado foi localizado na divisa entre as comunidades Nova Holanda e Baixa do Sapateiro, ambas no Complexo da Maré. O local fica entre escolas e creches, e sofre influência de facções criminosas rivais, cujos traficantes fortemente armados, quase que diariamente, entram em confronto pela disputa territorial.
Levantamento da Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional aponta que o Complexo da Maré é uma das regiões do estado que concentra o maior número de traficantes e armas de grosso calibre. Os criminosos portam inclusive fuzis de alto poder de destruição, como o .50, conforme matéria veiculada em reportagem do dia 14/08 deste ano, em que um traficante, em um baile funk, carregava uma arma deste mesmo calibre.
A Sepol esclarece ainda que qualquer incursão da polícia no Complexo da Maré somente é possível com o emprego de veículos blindados e apoio de helicópteros para resguardar a integridade física dos policiais e dos moradores. Decisões judiciais locais e do STF impedem a circulação e estacionamento de veículos blindados próximos a escolas, creches e hospitais, bem como vedam o sobrevoo de aeronaves num raio de dois quilômetros de tais estabelecimentos. Além disso, determinam que operações policiais somente podem ser realizadas em hipóteses absolutamente excepcionais.
O caminhão mostrado na matéria estaria muito próximo a escolas. A Polícia Civil respeita e cumpre as decisões judiciais e, por conta disso, está impedida de operar na região.
TEXTO: Lucas Duarte
Com informações: G1