TRC está terceiro lugar no ranking de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) no Brasil - Foto: PRF/Divulgação |
Segmento lidera ranking de atividades com o maior número de mortes por acidentes de trabalho; para especialista em segurança viária, negligenciar a saúde da categoria coloca todos em risco
O transporte rodoviário de cargas brasileiro pode ser considerado atualmente um dos segmentos mais perigosos para se trabalhar. Prova disso são os Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, feito pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com o levantamento, somente em 2021, o transporte rodoviário de cargas ficou em terceiro lugar no ranking de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) no Brasil, mas liderou a lista do setor com o maior número de mortes. No ano passado foram registradas 327 mortes em acidentes de trabalho e 12.771 notificações de acidentes.
A periculosidade de se desempenhar a função de motorista no segmento também é atestada pela recente pesquisa da Confederação Nacional do Transportadores Autônomos (CNTA). Segundo o estudo que traçou o perfil do caminhoneiro autônomo brasileiro, 23,7% dos profissionais trabalham de 26 a 31 dias por mês e a média diária de horas ao volante chega a 13.
“Não há dúvidas de que os motoristas de veículos pesados estão entre as profissões mais perigosas no Brasil. Toda essa jornada excessiva de trabalho deteriora a saúde física e mental e isso abre portas para um comportamento de risco: o abuso do consumo de álcool e de substâncias psicoativas para trabalhar por mais horas e ganhar cada vez menos. Essa conta não fecha e todos nós pagamos o preço da insegurança viária nas estradas e rodovias", comenta Alysson Coimbra, diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
Menos saúde, mais mortes
Já os dados do Anuário Estatístico da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontam que, em 2021, 853 ocupantes de caminhão morreram nas estradas federais em sinistros de trânsito e outros 1.616 ficaram gravemente feridos.
Para a maior parte dos caminhoneiros autônomos entrevistados pela CNTA, as condições de conservação das rodovias são atualmente a maior dificuldade enfrentada no dia a dia da profissão. Em segundo lugar, aparece a segurança. “Para 47% dos entrevistados na pesquisa, a qualidade das rodovias brasileiras é péssima e, para 29%, é ruim. Dirigir durante 13 horas nessas condições agrava em muito a segurança e a saúde. O estresse, a ansiedade, obesidade e doenças cardiovasculares são problemas recorrentes da categoria agravados pela falta de cuidados com a saúde”, comenta. Coimbra.
Ainda segundo a pesquisa da CNTA, 26,5% dos caminhoneiros nunca fazem checkup e 15,6% disseram que fazem uma vez a cada 3 anos. “O que se percebe é que a maioria dos caminhoneiros só passa por avaliação médica quando faz a renovação da CNH. É importante que esses exames sejam mais frequentes porque, segundo a OMS, 90% dos sinistros de trânsito acontecem por falha humana”, afirma o especialista em Medicina do Tráfego.
Envolvimento em acidentes
Um levantamento feito pela Ammetra com base em dados da PRF também revelou que, no ano passado, apesar de representarem apenas 5% da frota total, os veículos pesados (caminhões e ônibus) responderam por quase metade (47%) das mortes e por quase um terço (31%) dos feridos graves nas rodovias federais brasileiras. “A categoria precisa também de políticas públicas de saúde e segurança. Negligenciar esses profissionais é colocar a vida de todos em risco”, comenta Coimbra.