A sustentabilidade tem sido um tema muito recorrente nos últimos anos e, com isso, as práticas sustentáveis passaram a ser cada vez mais exigidas no mercado. O assunto se tornou pauta de discussões, de palestras, de eventos e de reuniões, e começou a ser adotado expressivamente também no setor de transporte de cargas e logística, visando reduzir os impactos deste segmento no meio ambiente.
Em âmbito global, de acordo com a CBI (Climate Bonds Initiative), estima-se que tenha sido emitido, em 2020, um montante de US $ 257,5 bilhões (cerca de R$ 1,35 trilhão) em títulos de dívidas voltados ao ESG, um crescimento de 36% em comparação ao resultado de 2019. Em um enfoque local, também é possível notar a alta de tal tendência: segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os fundos de ações baseados em sustentabilidade e governança acumularam mais de R$ 543 milhões em 2020. Ou seja, o ESG requer cada vez mais investimento por parte de empresas de todo o mundo para gerar novos conceitos, tendências, ferramentas e compromissos no mercado.
Essa expansão é resultado do interesse e da pressão que a sociedade tem exercido para que as empresas adotem práticas sustentáveis não apenas do ponto de vista ambiental, mas se comprometam com uma visão mais ética e de inclusão social. A eclosão da pandemia do coronavírus e seus impactos gigantescos sobre as pessoas ajudaram a reforçar essa tendência. Com isso, o que no passado se restringia a estratégias de marketing passou a ser incorporado nas estruturas mais profundas das corporações, a partir de métricas e regras estabelecidas por instituições globais, como a Organização das Nações Unidas e o Fórum Econômico Mundial.
O ESG no setor não se resume apenas a redução da emissão de poluentes, e as siglas representadas pelas letras S -- social e G -- governance, têm sido amplamente discutidas e desafia os profissionais da área, a repensar a todo o momento se estão, de fato, entregando o mais eficiente modelo logístico que precisa ser ágil, assertivo e com custos otimizados sem perder os desdobramentos desses pilares que também são fundamentais. Uma empresa responsável pensa desde o relacionamento com os stakeholders que estão envolvidos na operação logística: colaboradores, fornecedores, parceiros até as comunidades, observando os contratos comerciais, as condições de trabalho e o impacto ambiental em todo seu processo de atuação.
No caso da dimensão social, falando mais especificamente sobre o S da sigla, a expectativa é que as empresas possam disseminar o ESG entre seus stakeholders por meio de ações práticas, cuidando de questões como a melhoria das condições de trabalho para profissionais, redução de acidentes nas estradas, por meio de treinamentos, valorização da diversidade e equidade de gênero, o combate à exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas, entre outros. É importante trabalhar com transparência e fazer com que os pilares de ESG possam fazer parte de toda a cadeia operacional e as pessoas possam ver de dentro para fora os resultados de todo esforço com ações e resultados visíveis para a sociedade.
Finalmente, do ponto de vista da governança, o G da questão, é necessário que a empresa tenha uma gestão de qualidade e processos que promovam o fortalecimento de princípios como a ética empresarial, construção de conduta formal de toda a cadeia, transparência tributária e outros instrumentos de controle que colocam a constituição de conselhos profissionais de administração agindo com transparência e responsabilidade para transmitir, de forma clara, a intenção da companhia em evoluir nas práticas ESG como prioridade.
Eu atuo há mais de 30 anos no setor e posso dizer por experiência própria que evoluímos muito até os dias de hoje, mas naturalmente novos desafios vão surgindo com o passar do tempo e as metas de ESG precisam ser atualizadas constantemente para o aprimoramento das práticas e melhoria dos resultados para o ser humano, indústria e meio ambiente.
Uma cadeia de suprimentos mais sustentável é de grande importância ao negócio. Isso porque, além de transmitir responsabilidade social e ambiental aos clientes, tal atitude também denota uma empresa competitiva, com potencial de crescimento das operações de forma escalável e sustentável. Com isso, se faz cada vez mais necessário práticas, metas e gestão transparentes que podem ser divulgadas por meio do Relatório de Sustentabilidade afim de prestar contas à sociedade.
ARTIGO: Vera Naves é vice-presidente do Grupo Rodonaves, um dos principais grupos do setor de transportes e logística do Brasil