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Brasil perdeu 1,1 milhão de motoristas profissionais nos últimos 10 anos; transporte rodoviário de cargas já enfrenta desafios devido a falta de caminhoneiros
A exemplo do que já ocorre ao redor do mundo, a crescente falta de motoristas também está assolando e desafiando o transporte rodoviário de cargas brasileiro, impactando diretamente as operações e a competitividade do setor no País.
Dados da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN), revelam que entre 2013 e 2023, o Brasil perdeu cerca de 1,1 milhão de motoristas profissionais, uma redução de 20% na última década. Os números refletem uma tendência global: segundo a União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU), há um déficit de mais de 3 milhões de motoristas de caminhão não preenchidos no mundo.
Marcel Zorzin, CEO da Zorzin Logística, reforça que a escassez de motoristas é um problema que tende a se agravar nos próximos anos. "A categoria tem uma idade elevada e, com a aposentadoria de parte desses profissionais, estima-se que o déficit possa chegar a 30%. Precisamos de estratégias para tornar a profissão mais atrativa, seja por meio de melhores salários, condições de trabalho mais favoráveis ou a busca por mão de obra de outros países", destaca.
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Na tentativa de mitigar os impactos da escassez de mão de obra, as transportadoras brasileiras já avaliam a contratação de motoristas estrangeiros. José Alberto Panzan, diretor da Anacirema Transportes e presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Campinas (SINDICAMP), avalia que essa solução pode ganhar força caso a falta de profissionais afete de forma crítica as operações das transportadoras. "Essa pode ser uma saída quando as alternativas internas, como a atração de profissionais locais, não são eficazes", afirma o executivo.
Entretanto, segundo Pazan, para se tornar viável, a medida depende de políticas governamentais que facilitem a obtenção de vistos e autorizações de trabalho, além da adaptação do setor para acolher e integrar esses profissionais.
Embora o Brasil conte com cursos e investimentos do setor para capacitação de motoristas, a admissão de profissionais estrangeiros apresenta desafios que vão além da burocracia documental. O executivo lembra que a adaptação desses motoristas às normas, à cultura e às particularidades do transporte nacional exige um esforço coordenado entre empresas, entidades do setor e órgãos reguladores. "Empresas podem investir em programas de integração, tanto técnicos quanto culturais, e buscar parcerias com sindicatos, órgãos governamentais e entidades de classe para facilitar mudanças regulatórias necessárias", comenta.
A recente aprovação do reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação entre Brasil e Itália também levanta novas possibilidades. "Podemos pensar em ampliar essa medida para outros países do Mercosul, por exemplo, facilitando a contratação de motoristas estrangeiros", pontua Marcel. "Mas também enfrentamos um movimento inverso: muitos profissionais brasileiros estão deixando o país para trabalhar em lugares onde a remuneração é mais atrativa."
Alternativas para driblar a falta de profissionais
Enquanto a contratação de motoristas estrangeiros ainda enfrenta a burocracia, algumas transportadoras brasileiras já estão investindo em alternativas para mitigar a escassez de profissionais. A Anacirema Transportes por exemplo, já adota algumas estratégias, como a utilização de motoristas PX e a participação em programas de capacitação do SEST SENAT. "Essas iniciativas têm sido fundamentais para reduzir a carência de profissionais, mas sabemos que é preciso ir além. Atrair e reter talentos qualificados exige um esforço contínuo", explica Panzan.
Para tornar a profissão mais atraente, a empresa também aposta em benefícios como planos de saúde, bonificações por desempenho e melhorias nas condições de trabalho, incluindo horários flexíveis e roteiros otimizados. Além disso, investe em campanhas de valorização da profissão e parcerias com escolas técnicas para formar novos motoristas.
“É fundamental construir uma imagem mais positiva da profissão, que desempenha um papel essencial na economia do país e, para isso, precisamos valorizar e investir", conclui Panzan.
Já a Zorzin Logística, por sua vez, tem investido na ampliação da participação feminina no setor. "Já contratamos cerca de oito mulheres para atuar como motoristas, mostrando que essa profissão também pode ser exercida por elas. Também investimos em divulgação e captação ativa de novos profissionais", afirma Zorzin.
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